Mezzo corrida, mezzo diversão

Sérgio Xavier

A maratona não permite grandes hesitações. Ou se respeita a vecchia signora ou ela nos devora. Não dá pra relaxar na preparação da maratona. Treinos, volumes, sono, hidratação, tudo precisa estar nos trinques. Do contrário, não vai ser legal. Vai faltar energia no final, vamos nos arrastar.

A meia maratona não. Está, como o nome sugere, no meio do caminho. Dá para relaxar um pouco, quem já guarda no cérebro alguma memória esportiva pode treinar menos, prestar menos atenção aos detalhes. E ainda assim conseguir uma performance razoável. Claro, alcançar o recorde pessoal exige mais dedicação. Mas treinando mais ou menos dá mesmo pra fazer uma meia bem razoável.

Aconteceu comigo esses tempos numa meia do Rio. Comecei o ciclo de treinos pensando em performance, queria um recorde. Só que o fim de semana prometia. Muitos encontros com amigos, o Rio sempre implora um chopinho, descontração. Fosse uma maratona, manteria a linha, sem pestanejar. Mas era meia, meia responsa, meia culpa. Mezzo performance, mezzo calabresa.

Na véspera da prova, um glorioso jantar com amigos regado a ótimo vinho. O recorde se foi na terceira taça. Na hora de escolher entre a glória esportiva e a camaradagem, nem foi tão dificil fazer a opção. O anjinho da corrida perdeu para o diabinho social. Cá para nós, tudo tem hora, nem sempre precisamos fingir que somos atletas dedicados. Dar um tempo nessa busca maluca pelos tempos, de vez em quando, é tudo o que precisamos. Ou não?