Se vira nos 30, amigo!

Sérgio Xavier

Nunca me dei conta das semelhanças, mas Copa do Mundo é mesmo uma espécie de maratona. Para quem nunca experimentou, a maratona é uma corridinha de 12 quilômetros que tem uns 30 km de aquecimento. Para quem não sabe, nós, os humanos, não fomos feitos para correr mais do que 30 quilômetros. É o nosso limite, um pouco mais, um pouco menos, dependendo da pessoa.

Qualquer um, até o cunhado que não sai do sofá, pode correr até uns 30 quilômetros se treinar adequadamente. Para depois dos 30, é preciso mais. Alguma aptidão específica, treinamento sério e, principalmente, muita cabeça. É o cérebro implorando para parar com essa bobagem. É o cérebro lembrando a cada músculo que humanos não foram feitos para correr mais do que 30 quilômetros. Dá pra completar a maratona, muitos completam todos os anos e em todas as partes do planeta. Só que é difícil pacas.

A Copa do mundo é assim. Difícil pacas. Só uns poucos a vencem. Não basta ser bom e querer. É necessário ter cabeça, vencer o nervosismo. No futebol, a expressão “cabeça” está relacionada à tradição do país, à “camisa”. Tanto que apenas oito países levantaram a taça desde 1930.

Nesta sexta-feira, primeiro de dezembro, temos sorteio do Mundial da Rússia para definir os grupos da primeira fase. Muita gente dá uma enorme importância a essa primeira fase quando as 32 seleções são distribuídas em oito grupos. Bobagem. A primeira fase equivale aos primeiros 30 quilômetros da maratona. Assim como o longo processo das Eliminatórias representa toda a fase de treinos do maratonista.

Se a maratona não passa de uma corridinha de 12 quilômetros, a Copa do Mundo de verdade também pode ser resumida a partir das oitavas de final quando os confrontos de mata-mata definem quem segue adiante. Ali sim, o jogo começa. Não basta ser bom e estar bem treinado. É necessário “ter cabeça”, estar focado, querer demais.

Quem exagera o ritmo nos 30 quilômetros iniciais corre o risco de não ter fôlego e cabeça para os 12 finais. As seleções que se empolgam demais e se embriagam com o sucesso na primeira fase podem não ter energia para encarar os confrontos a partir das oitavas. O paradoxo disso é que não se pode também relaxar demais nos 30 quilômetros iniciais assim como não se pode bobear na fase de grupos da Copa. Só ganha a medalha da maratona quem sobrevive aos 30. Na Copa, para chegar aos mata-matas, é preciso se virar nos 30 da primeira fase. Mas o jogo só começa depois…