Xixi no poste

Sérgio Xavier

Viajar é um privilégio, e não estou falando apenas de turismo, férias, piña colada. Todos os dias milhares de pessoas se deslocam por afazeres profissionais e são “obrigados” a esbarrar em novas culturas, conhecer gente nova, ver novas paisagens. Os passageiros mais frequentes costumam amaldiçoar as próprias rotinas e se queixar do destino. É compreensível, claro, querer ficar mais perto dos seus, rogar pelo travesseiro de casa, sonhar com pequenas rotinas do lar. Mas, uma vez que já estamos no mundo mesmo, restam duas formas de encarar a vida: chorar pelo colchãozinho de casa ou aproveitar tudo o que aparece de novo pela frente.

É evidente que preferi a segunda alternativa. Viajo um bocado, passo mais dias fora de São Paulo do que em casa. Sinto falta da minha turma, mas, em compensação, estou tendo a oportunidade de conhecer outro pessoal, outros lugares. A corrida é um poderoso instrumento de conhecimento. Não requer grandes preparos. Um par de tênis na mochila já é o passaporte para novas fronteiras. Uma olhadinha no mapa da nova cidade é o começo de tudo. Procuro os verdinhos no mapa, é pra lá que costumo ir. Praças, parques, sombra. Uma conversa no balcão do hotel para checar informações pode ajudar, mas também atrapalhar. O longe de quem não corre pode ser o nosso perto. Uma leve subida de repente se transforma em uma ladeira assassina na avaliação sedentária. Nem pergunto se o hotel tem esteira, fora de questão. Como um cão errante, vou em busca de postes para marcar novos territórios. Conhecer mais e mais lugares é a missão. Se não conheço o Brasil com a palma da mão, estou tentando com a sola dos pés.

Nesse último fim de semana, corri pela primeira vez no Recife. Tive um anfitrião de respeito, o ultramaratonista Eduardo Neves que já está com quatro Comrades (ultra de 89 km na África do Sul) nas costas e tem um canal de corrida no YouTube (https://youtu.be/vS5fldXDILg). Fomos até o Marco Zero da capital pernambucana, passamos pelas estátuas do grande Brennand, preciso voltar. Tem ainda muito poste para batizar no Recife.