A São Silvestre nossa de cada dia
Nem sei quando exatamente isso começou. Só me lembro do cheiro da carne assando na cozinha. A TV ligada na sala, a largada acontecendo e uma torcida cega pelo brasileiro da hora. José, João, Zé João, Émerson, o nome é o que menos importava. A ceia rolando e eu de olho na TV. A vitória de um brasileiro na São Silvestre era a senha para um grande ano.
Eu nem corria, mas já sabia que a São Silvestre não era uma corrida qualquer. Significava pular as sete ondinhas, vestir roupa branca, comer doze uvas. Era simplesmente uma forma de desejar feliz ano novo para todos, para os desconhecidos, inclusive para os atletas brasileiros desconhecidos.
O tempo passou, a São Silvestre mudou de horário, eu cresci e comecei a correr. E inventei, faz uns 20 anos, a minha tradição pessoal: todo dia 31 eu corro 15 km, esteja onde estiver. Com a família longe, dificilmente fico em São Paulo na virada do ano, por isso só participei de três São Silvestres. Mas já “corri São Silvestre” em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Florianópolis, Copenhagen, Imbé, em toda a parte.
Parece que o ano começa diferente após os 15 km do dia 31. Começa sempre melhor. Nesse sábado, a Folha de S. Paulo me pediu um texto sobre a São Silvestre. É a maior corrida da América do Sul. É a versão brasileira da Maratona de Nova York. Mas podia ser melhor. É sobre isso que escrevo.
A São Silvestre pode acontecer até numa prainha remota…