A São Silvestre quer melhorar?

Recebi uma dezena de relatos de companheiros da corrida. Há uma quase unanimidade: a edição 2017 da São Silvestre foi a melhor dos últimos anos para os amadores. Há outra quase unanimidade também: a prova continua uma zona. Seguem os congestionamentos e a clara impressão de que poderia ser melhor. Um dos relatos mais “positivos” é do confrade Fernando Mazotti:

“Serginho, larguei no pelotão azul, logo depois da elite e caminhei por apenas 50 metros. Consegui correr o percurso todo. Mas 90% dos corredores tiveram que andar muito. Sem largada em ondas isso nunca acabará. E o controle sobre a entrada no pelotão certo foi bem ruim também.”

Não vou repetir o que já escrevi. Só largada em ondas resolve o congestionamento, a divisão por pelotões de ritmo apenas atenua o problema. Mesmo com a saída em duas pistas da Paulista, não tem jeito. A entrada no túnel afunila tudo, ali a maioria absoluta precisará caminhar.

Para corrigir isso a organização precisa primeiro reconhecer que tem um problema. O fato de todos os anos muita gente querer correr não significa satisfação do consumidor. A ideia de correr no último dia do ano uma prova tradicional é tão fascinante que muitos relevam o desconforto. Nenhum corredor gosta de caminhar porque simplesmente não consegue correr.

Após o reconhecimento, é preciso agir. Planejar as ondas, explicar como elas funcionarão, checar a informação dos ritmos de corrida no momento da inscrição, fiscalizar no dia da prova para que cada um esteja no lugar estabelecido. Dá trabalho, mas quanto mais organizado tudo fica menos penetras aparecerão. Os pipocas proliferam na zona absoluta. A organização da prova bateu muito na tecla dos penetras estragando a festa. É verdade, é um problemão mesmo um galera enorme que não pagou a inscrição tomando o lugar de quem se inscreveu. Falta espaço, água, falta vergonha na cara de quem faz isso. Mas os pipocas não são a única questão da SS.

A organização quer mesmo melhorar ou está satisfeita com o lucro atual das inscrições e dos patrocínios? O mesmo raciocínio vale para a Volta da Pampulha, para a Meia Internacional do Rio, para grandes (e maravilhosas, diga-se de passagem) provas brasileiras. Dá pra melhorar, desde que se queira de verdade.