Dever de resposta
A expressão é conhecida, “Direito de resposta”. Geralmente quando alguém não gosta do que foi escrito, o direito é pedido e concedido. A imprensa não aprecia muito ceder o seu espaço a outras vozes contrárias mas, em nome do jogo democrático, o direito é concedido. Meu post anterior (http://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/o-auxilio-moradia-e-a-ciclofaixa/) criticava corredores que invadem a ciclofaixa das bicicletas. O ciclista, corredor e leitor Francisco Forjaz me mandou um email com pontos de vista contrários. Concordo com vários de seus pontos, discordo ainda quanto ao uso da ciclofaixa. Ele não pediu direito de resposta. Pela qualidade de sua argumentação, tenho o dever de publicar o email. Chamemos isso de “dever de resposta”. Diga aí, Francisco:
“Trabalho de bicicleta e corro quatro vezes por semana. Meu mote de mobilidade nos últimos anos tem sido o que a mídia propaga: conviva! Assim, se estou na rua de bicicleta, atento para dar prioridade ao pedestre e luto pela atenção de motoristas de veículos automotores para que respeitem meus direitos. Nas ciclovias, respeito os demais ciclistas, inclusive os lentos e que lá estão a lazer, ainda que eu esteja com meu meio de transporte a caminho do trabalho. E tenho convivido com os corredores que optam por usar as ciclovias e ciclofaixas para realizar suas atividades.
Geralmente, corredor desenvolve uma velocidade de 8 a 14km/h, a mesma velocidade média das bicicletas que, ademais, tem limitação de 20km/h nas faixas. Com bom senso e educação é possível conviver. E, assim, quando deixo a bicicleta para rumar à minha casa correndo, eventualmente faço uso de ciclovias e, aos domingos, das ciclofaixas, pois são mais seguras em certos momentos para a prática do exercício e porque o convívio entre os praticantes é mais equilibrado do que se eu corresse nas ruas ou calçadas.
Sua coluna, portanto, me parece fruto de intolerância e uma amostra de dificuldade de conviver com os outros de forma harmoniosa. As bicicletas conquistaram seu espaço? Ótimo! Mas isso autoriza que esse espaço lhe seja exclusivo, excluindo de seu gozo um corredor que, hoje, sofre as mesmas mazelas que o ciclista até então sofria? Acolher ou largar os corredores à sua própria sorte? Você fez sua escolha. Eu, com base em diferentes princípios e com uma visão bem diferente de sociedade, fiz a minha.
Sobre a comparação feita com o auxílio moradia, você comparou banana com cadeira. Um fala, acima de tudo, sobre a ética daquele que tem o imóvel e pode (deve) abrir mão do auxílio. A ilegalidade e inconstitucionalidade somente estão sendo levantadas pela postura não ética e responsável desses servidores.
Correr na ciclovia e na ciclofaixa é ilegal. A lei municipal veda. Como veda uma série de atitudes praticadas pela maioria dos ciclistas. Como o CNT veda a circulação de ciclistas em calçadas, ainda que em alguns casos e trechos ela seja o mais seguro e recomendável, se usada com bom senso. Assim, a questão aqui é bom senso. É conviver. Ter senso de comunidade e sociedade. Assim, se fosse para comparar os dois assuntos, eu diria que o servidor que abre mão do auxílio age com o mesmo senso de responsabilidade que o ciclista que acolhe o corredor no ‘seu’ espaço….”