Corredores elétricos

Sérgio Xavier

No princípio, era o cronômetro. O instrumento de medição da corrida era aquele objeto redondinho que se moldava nas mãos dos treinadores. O tempo era a unidade a ser dominada. Os atletas sabiam qual era a distancia percorrida e mediam o tempo.

A invenção do frequencímetro revolucionou os sistemas de treinamento. A sensação de esforço podia ser aferida pelos batimentos cardíacos. Zonas de frequência eram usadas para os diferentes tipos de treinos. Tudo ficou mais preciso, engenhoso.

A terceira revolução no treinamento de corrida veio pelo GPS. O satélite dando aquela forcinha ao corredor, um luxo. Distância, velocidade e ritmo, tudo ao alcance da mão. E on line, ainda por cima. Quando o frequencímetro foi incorporado nos relógios GPS parecia que havíamos chegado à última fronteira. O que mais o corredor poderia ter? Qual engenhoca poderia ser mais eficiente do que um GPS com frequencímetro?

A resposta está vindo de nossos primos esportivos. Os ciclistas, sempre próximos dos corredores, estão largando o GPS porque descobriram um instrumento bem mais útil para treinos e provas. Os medidores de potência tomaram conta do treinamento de ciclismo. Os aparelhinhos servem para aferir a força aplicada nos pedais e funcionam melhor do que qualquer frequencímetro. Funcionam melhor do que GPS por não necessitar do sinal do satélite, um pesadelo de corredores que amaldiçoam os túneis e viadutos que estragam os registros de treinos e provas.

Trata-se de uma verdadeira revolução. A engenhoca mede três planos de potência, horizontal, vertical e lateral. A gente nem percebe, mas na corrida usamos os três planos. Não corremos apenas para a frente, mas para cima (do contrário estaríamos apenas caminhando) e para o lado nas curvas. Tudo é esforço, tudo demanda energia. O medidor de potência é instalado no tênis e informa quantos watts estamos gastando. Watts? What’s? Pois é, viramos “corredores elétricos” agora…

Fato é que o medidor, usando as três dimensões, capta com precisão diferentes esforços em diferentes condições. Tem subida? Gastamos mais watts. Tem vento? No reloginho aparecerão mais watts. Nossa mecânica de corrida está mais econômica? O medidor mostrará um consumo menor. Assim se descobrem, como no frequencímetro, zonas de treinamentos. Cada atleta pode saber quantos watts poderá gastar a cada hora de treino ou de prova antes de “quebrar”. Com ajuda de um bom treinador é possível saber qual o ritmo ideal para cada altimetria. Só pelos watts.

Os medidores de potência já são uma realidade no ciclismo e estão apenas chegando na corrida. Não chegaram de verdade ainda, mas prometem revolução na maneira de perceber a corrida.