Proibido para menores
Nunca tinha parado pra pensar. Mas o tema surgiu quando minha filha quis participar de uma prova de 5 km. Correr é mesmo algo proibido para menores. Tive que fazer força pra achar uma prova permitida para uma jovem então com 15 anos. A maioria dos regulamentos brasileiros fala em um mínimo de 16 anos já completos no dia da prova. Quase todos eles citam a regra da CBAt, a Confederação Brasileira de Atletismo. Fui lá conferir. A CBAt se inspira em normas da IAAF, a Federação Internacional de Atletismo. Na gringa, fala-se em um mínimo de 14 anos para os 5 km, em 16 anos para os 10 km e em 18 anos para provas de 10 a 30 km. Para a maratona, acreditem, apenas maiores de 20 anos. Deve ser mais simples pilotar um caça da FAB do que participar de uma prova de rua como a maratona.
Há algo estranho com o nosso esporte, primeira conclusão que surge na mente. Estamos, de alguma forma, afugentando a moçada das ruas. Não permitimos que eles acompanhem os pais, que eles possam, eventualmente, gostar cedo da brincadeira. Citei o exemplo da maratona, mas estou me referindo mais às provas de 5 ou 10 km. Conversando com médicos e treinadores, a gente descobre que correr distâncias como 10 km não é uma violência fisiológica para corpinhos em formação. Correr faz bem, sobretudo com uma boa orientação. Isso vale para adultos de 30 anos, para os veteranos de 70 anos e, por que não, para a garotada de 14 ou 15 anos. Nos Estados Unidos, a moçadinha corre adoidada na escola e nas ruas.
Uma cena me marcou quando fui correr a maratona de Nova York em 2009. No dia seguinte à prova, resolvi passear no Central Park e fui até o “Reservoir”. É um dos lugares mais icônicos da cidade, já foi cenário de muitos filmes, os corredores adoram treinar em volta do reservatório de água do parque. Quando cheguei lá, tinha uma moçada começando o treino. Uns 20 garotos e garotas na faixa de 13, 14 anos. Parei pra ver e escutar o “coach” marcando os tempos. Elas estavam girando os 2,5 km do reservatório em torno de 10 minutos. Isso as meninas… Porque os garotos rodavam mais perto dos nove minutos. Ou seja, elas nos quatro minutos por km e eles nos três minutos e carquerada. Uau! Logo depois, encontrei toda a turma no metrô. Estavam voltando juntos para a escola. Aquilo deveria seguir uma rotina semanal. Jovens treinando forte para as competições de estudantes e, provavelmente, preparando-se também para distâncias maiores. Dessa abundância de gente treinando surgem os talentos esportivos.
É claro que no Brasil estamos longe de ver cenas parecidas. Esporte não conversa com educação por aqui. Mas, se já não é fácil garimpar atletas, também não precisamos afugentá-los. Que tal rever os regulamentos das provas de rua? Podemos ter mais famílias inteiras em nossas corridas. É só deixar que filhos possam correr com pais. Hoje corrida é algo proibido para menores.