Somos mais maratonistas do que supomos
Más notícias, meu amigo. Aquela desculpinha esfarrapada de que você não pode correr porque, afinal, não foi feito para correr talvez não passe de uma… desculpinha esfarrapada. A descoberta é de pesquisadores da Universidade de San Diego, na Califórnia. O grupo de cientistas, liderado pelo médico molecular Ajit Varki, descobriu que a espécie humana se beneficiou de uma importante modificação genética ocorrida provavelmente há dois ou três milhões de anos quando saía da floresta para caçar nas savanas. O gene mutante em questão, o indecifrável CMP-Neu5Ac Hydroxylase (que foi carinhosamente abreviado para CMAH), é o responsável por nos transformar em quase fundistas naturais. A consequência dessa mutação é a elevação dos níveis de oxigênio para os músculos em atividade, aumentando a resistência e reduzindo a fadiga muscular geral. Em outras palavras, somos animais corredores, sim.
Muitas adaptações fisiológicas ajudaram a tornar os humanos preparados para a corrida de longa distância (a evolução das pernas longas, a capacidade de suar, por exemplo) contribuíram para aumentar nossa resistência. Mas, com a descoberta do gene modificado, os pesquisadores acreditam que “encontraram a primeira base molecular para essa mudança incomum em humanos”, segundo Ajit Varki, que viu os resultados de seu trabalho publicados em meados de setembro na Inglaterra na Royal Academy Publishing, um respeitável ponto de encontro da comunidade científica mundial (http://rspb.royalsocietypublishing.org/content/285/1886/20181656).
Nos últimos 20 anos, Varki e sua equipe de pesquisa usaram camundongos para conectar a mutação a outros impactos no corpo humano. Foi usado um grupo controle de roedores com o gene regular codificado e um grupo de camundongos com a mutação semelhante à humana. Os pesquisadores compararam como os ratos correram em uma esteira em forma de roda gigante antes e depois do “treino”. Os camundongos com a mutação CMAH poderiam correr mais e mais rápido, algo como 12% mais rápido e 20% mais longe. Após os testes em esteira, Ellen Breen, cientista pesquisadora em fisiologia de San Diego, examinou os músculos dos camundongos e descobriu que aqueles com a mutação não se cansavam tão rapidamente como os ratos comuns. Além disso, os roedores que não possuíam o gene CMAH usavam o oxigênio de forma mais eficiente no nível celular e tinham mais capilares fornecendo oxigênio para os músculos. Nem sabíamos, mas quando descemos das árvores para caçar nas savanas já estávamos nos preparando para se inscrever na próxima maratona. Talvez falte vontade, sobrem desculpas, mas nossos genes já estão prontinhos para a correria.