Correria https://correria.blogfolha.uol.com.br Mon, 19 Nov 2018 15:21:45 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Nova York sem apagão https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/11/08/nova-york-sem-apagao/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/11/08/nova-york-sem-apagao/#respond Thu, 08 Nov 2018 17:20:00 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/fe9ae20c-a3ff-4f85-9841-24964145b049-320x213.jpg https://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=194 Já escrevi sobre isso, o tema é mesmo fascinante. Primeiro corríamos prestando atenção nos minutos e segundos. Era o relógio no pulso e as pernas fazendo força para irem mais rápido. Depois, nos ensinaram que era preciso ficar de olho nas batidas do coração. Os frequencímetros passaram a balizar nossas provas e treinos. Pois a última “moda” da corrida é se guiar pela potência. Nada de minutos por quilômetros, batidas por minuto do coração, a conversa passa ser em watts de potência.

Quem me apresentou ao assunto foi o médico mineiro Marcos Cruvinel. Além de ótimo amador, capaz de maratonas abaixo de 3 horas, Cruvinel é um estudioso. Curioso de tudo. Sempre procurando melhorar sua performance, pesquisou, treinou e correu sua primeira maratona sem prestar atenção na velocidade. Planejou a Maratona de Nova York no domingo passado em watts. Ele mesmo conta essa incrível experiência:

Não importa se é a primeira ou a centésima. Tampouco se o seu objetivo é apenas cruzar a linha de chegada antes do tempo limite ou obter um tempo específico. Como quarenta e dois quilômetros é quilômetro pra chuchu, ao alinhar na largada, todo maratonista precisa ter um plano. Não há como largar correndo como se não houvesse o quilômetro 42. Não há como largar passeando como se não houvesse um relógio na linha de chegada.

Pensar essa estratégia de prova sempre foi algo que me tirou da zona de conforto. Largar rápido demais é pagar um preço muito alto no final. Se largar devagar demais, não tem como diminuir o prejuízo depois. Mas o que é rápido demais? O que seria muito devagar? Confiar na sensação de esforço nunca me convenceu. No início, tudo são flores, no final, é tudo espinho. Conversas e mais conversas com treinador e amigos. Leitura de vários textos em revistas, blogs e sites. Mas, principalmente, depois de quebrar muito a cara, cheguei a um método que se mostrou eficaz. Primeiro passo: estabelecer o tempo alvo para prova baseado nos treinos realizados. O segundo é simples de falar, difícil de executar. Correr no ritmo desejado do inicio ao fim. O mais regular possível. Foi assim, um olho no relógio e outro no asfalto, que alcancei meus objetivos nas maratonas de Chicago, Buenos Aires e Amsterdam. Até que apareceu Boston.

O percurso, cuidadosamente elaborado pelo tinhoso, faz com que essa estratégia se transforme num plano do Cebolinha para capturar o Sansão das mãos da Mônica. Correr em qual ritmo nas descidas? Qual esforço fazer nas subidas? Larguei duas vezes em Boston cheio de dúvidas. Foi tentando achar respostas para este dilema que trombei, sem querer, com um medidor de potência para o corredor. Instrumento habitual ao ciclista, está sendo introduzido ao corredor nos últimos tempos.

Numa ultra simplificação, o que ele faz é quantificar seu esforço. O resultado aparece na tela do seu relógio em watts. No plano, você faz um esforço para correr a determinada velocidade. Numa subida, você fará mais esforço para correr na mesma velocidade. A ideia é se basear não mais na velocidade, e sim na potência. O sujeito determina, baseado nos treinos, qual potência alvo para prova, vai lá e tenta correr naquela potência o mais regular possível.

Adquiri o bichinho e passei a treinar com ele. Com treinos, treinos e mais treinos feitos sempre de olho no ritmo, foi necessário tirar essa informação da tela do relógio. Pronto, agora não sabia mais em qual ritmo estava correndo. Só a potência que estava sendo gerada. E assim foi por um ano e meio, tempo que separou a Maratona de Boston 2017 da Maratona de Nova York 2018.

Desembarquei em Nova York com uma estratégia em mente, iria correr a determinados watts da largada a chegada. Pensava em 255 watts de média. Na feira da maratona, dei uma sorte e bati um papo com um dos diretores técnicos do Stryd, o medidor de potência que uso. Contei a ele meu plano de prova, ele deu uma olhada nos meus treinos e falou: You’re not gonna make it. Em tradução bem livre, não vai rolar, parceiro.

Depois de um susto inicial, ouvi as explicações. Meu plano estaria ótimo caso a prova fosse plana. A demanda muscular nas subidas e descidas de Nova York gera um desgaste que cobra seu preço no final. Ele sugeriu então que eu ajustasse para baixo meu alvo, talvez em 250 watts.

No quatro de novembro, um dia perfeito para correr, lá fui eu. Um olho no relógio, outro no asfalto. Só que desta vez o relógio só me mostrava duas informações, potência e tempo. No início foi frustrante, todo mundo me passando. Tinha a nítida sensação que poderia estar correndo bem mais rápido do que estava. Veio a marca da meia maratona e com ela a segunda das quatro pontes que castigam na Maratona de NY. Um pouco mais adiante, outra ponte. Não demorou muito e o que era fácil foi ficando cada fez mais difícil, até ficar dificílimo. Aconteceu justamente o que o boca maldita do diretor previu: fadiga muscular.

Não fosse ter ajustado o plano e não fosse a paciência na primeira metade, teria quebrado miseravelmente. Ao final, cruzei a linha de chegada com aquela sensação maravilhosa de ter feito o meu melhor para aquele dia. Nem 1 watt a mais, nem 1 watt a menos.

Meu amigo médico Marcos Cruvinel completou a Maratona de Nova York em 3h06 minutos. O medidor de potência registrou 247,3 watts de média, praticamente o planejado. Quem conhece o complicado percurso sabe que 3h06min em Nova York representam uma prova abaixo de 3 horas em qualquer maratona plana como Berlim ou Chicago. Sim, deu certo, muito certo.

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Chicago confirma o grande ano das Majors https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/10/08/chicago-confirma-o-grande-ano-das-majors/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/10/08/chicago-confirma-o-grande-ano-das-majors/#respond Mon, 08 Oct 2018 16:20:37 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/IMG_2386-320x213.jpg https://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=188 O mundo das maratonas também tem o seu Grand Slam. Como no tênis (Abertos da Austrália, Roland Garros, Wimbledon e Nova York), são os grandes eventos que atraem a elite do esporte. No caso das maratonas, são as Majors, seis provas distribuídas ao longo do ano (Tóquio, Boston, Londres, Berlim, Chicago e Nova York).

Há uma premiação para os corredores que mais pontuam no conjunto das provas mas, ao contrario do tênis, não há como estar em todas. A maratona é cruel, desgastante. Na elite, a maioria dos corredores escolhe duas maratonas ao longo da temporada e tenta dar o melhor nas duas. Ao contrário do tênis também, nós, amadores, também podemos participar da festa. Até gostaria de bater uma bolinha no saibro de Roland Garros, só que eu precisaria nascer de novo para isso. No tênis, o palco é para os artistas profissionais. Nas maratonas, podemos dividir o asfalto com os caras. A única diferença é que eles largam um pouco antes e chegam muito antes.

As principais maratonas também são transmitidas nos canais esportivos por assinatura. Aí tem uma diferença, porém. Os jogos de tênis são palpitantes, a cada poucos segundos uma bola surpreendente pode fazer a gente soltar um palavrão da poltrona. Maratonas são, preciso admitir, monótonas. Demoram. Mais de duas horas, um-dois, um-dois, um passo após o outro. Em grande parte da prova, a turma corre em pelotões quase como se fosse um treino. Poucas ultrapassagens, poucas “fugas” de atletas tentando se desgarrar do pelotão.

Só que, de vez em quando, as maratonas nos reservam grandes histórias. Como em 2018, que ano espetacular. Em Berlim, tivemos uma inacreditável quebra de recorde mundial. Em Boston, um japonês amador venceu a prova. No domingo, 7 de outubro, tivemos uma enorme Maratona de Chicago disputada metro a metro até o final com a vitória do inglês Mo Farah.

Antes de mais nada, é necessário uma breve explicação sobre Mo Farah. Nascido na Somália, o atleta é bicampeão olímpico nos 5000 e nos 10000 metros. Encantou o mundo com arrancadas nas últimas voltas nos Jogos de Londres e Rio de Janeiro. Recebeu da Rainha da Inglaterra o título de “Sir”, resolveu se tornar gigante também nas maratonas. Só que o sucesso das pistas não veio tão rápido nas ruas como se esperava. Estreou em Londres em 2014 com um oitavo lugar. Esse ano, tentou de novo em Londres e ficou em terceiro. Pouco para um “Sir” das pistas. Pois em Chicago 2018 ele conseguiu. E com requintes de bondade. Suas 2h05min11 significaram o recorde europeu e o coroamento na maratona de alguém que já era gênio nos 5000 e 10000 metros.

Boston em abril já tinha sido uma prova especialmente emocionante. Uma frente fria enrijeceu atletas profissionais e amadores. Congelou performances em geral. Só que o amador Yuki Kawauchi, funcionário de uma escola no Japão, aproveitou o ritmo mais lento da prova e resistiu no pelotão da frente. Venceu em 2h15min58 surpreendendo a todos.

Em setembro, mais uma prova incrível. Não pela disputa em si, afinal o queniano Eliud Kipchoge liderou a Maratona de Berlim de ponta a ponta sem ser ameaçado. Seu duelo, porém, foi mesmo contra a história. Campeão olímpico na Maratona do Rio de Janeiro, o queniano tentava quebrar o recorde mundial da distância. Aos 33 anos, sabia que a ampulheta da performance descarregava os últimos grãos de areia. Kipchoge pulverizou o recorde anterior com suas 2h01min39 e fez até quem não gosta de corrida soltar palavrões da poltrona. Ainda falta uma Major para encerrar a temporada de 2018. O que Nova York pode reservar em 4 de novembro? Quem será o personagem principal? Qual grande história poderemos ter? Sugiro ficar de olho. Nunca se sabe.

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O sarrafo no céu https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/09/28/o-sarrafo-no-ceu/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/09/28/o-sarrafo-no-ceu/#respond Fri, 28 Sep 2018 21:35:24 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/IMG_2378-320x213.jpg https://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=184 A sensação é a do turista que desembarca no aeroporto de uma cidade estranha com pouco dinheiro no bolso. Faz as contas, acha que dá para pagar o táxi. Quando chega ao destino, o motorista informa que não vale o que está expresso no taxímetro. Tem bandeira dois, e aí, para pagar…

Pois a Maratona de Boston fez isso com a gente. Na quinta-feira, 27 de setembro, avisou o mundo da corrida que está cobrando bandeira dois, quer dizer, quase uma bandeira 3. Não se trata do valor da inscrição, mas de algo muito mais caro para quem pratica esporte amador: desempenho.

Para ter o direito de participar da mais longeva maratona do planeta, é preciso bom desempenho anterior em alguma maratona homologada pela Federação Internacional de Atletismo. Há uma tabela informando os tempos mínimos para cada faixa etária de homens e mulheres. Não bastasse esse muro para escalar, há um outro sarrafo para passar: como faltam vagas para tantos interessados, a organização da Maratona de Boston estabeleceu o tal do “cut off”, uma nota de corte mais exigente. E, no dia 27 de setembro, a notícia foi que para ter o direito de correr Boston em abril de 2019 cada atleta precisaria ter corrido uma maratona 4min52 abaixo da rigorosa tabelinha.

Não se trata de sadismo. O espírito de Boston é esse mesmo. E por isso ela é tão desejada. A prova completou 122 anos valorizando a excelência. Uma maratona para os melhores corredores amadores em cada faixa de idade. Para participar da brincadeira, é preciso levar a sério todo o ciclo de treinamento. A organização recebe o volume de inscrições e checa os tempos de maratonas anteriores informados pelos atletas. Só depois disso o “cut off” é definido. Se há, digamos, mil vagas na categoria “homens entre 40 a 45 anos” e 1.500 se inscreveram, os 500 mais lentos desse pelotão vão bailar. E o tempo real de qualificação, nesse hipotético caso, não será mais “abaixo de 3h25”, e sim “abaixo de 3h20min08”.

ÍNDICE PARA CORRER BOSTON

O fator que mais influencia a nota de corte é o desempenho dos atletas nas provas em que há mais qualificados para Boston. As quatro “maiores fornecedoras” em volume (não em percentual) de classificados para Boston são a própria Boston, Chicago, Nova York e Filadélfia. Esquentou nessas provas e o tempo médio caiu? É bem provável que a nota de corte para a maratona de Boston do ano seguinte também caia. Boston 2018 esteve perto da catástrofe. Temperatura perto do zero, chuva, vento, umidade altíssima. A performance geral despencou, havia a expectativa de que a nota de corte fosse mais camarada. Engano. A procura por Boston aumentou demais nos Estados Unidos e no resto do mundo. Mesmo com os desempenhos piores de Boston 2018, o sarrafo subiu para inéditos 4min55, o maior desde que a organização passou a adotar o critério em 2013.

Cheguei ao meu limite para conseguir o índice e participar da edição 2017 da prova. Um feito que valeu até o livro “Boston, a mais Longa das Maratonas” que escrevi após oito anos tentando a “maratona perfeita”. Estava pensando em tentar de novo em alguns anos, quando mudo de categoria e o tempo exigido ficaria mais factível. Não sei não. Do jeito que vai, o sarrafo vai ser colocado tão alto que não vou nem enxergar onde ele está.

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Cerimônia de maratona https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/05/29/cerimonia-de-maratona/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/05/29/cerimonia-de-maratona/#respond Tue, 29 May 2018 13:29:45 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/f68d994b-16d0-44dc-8a24-8a7650b37f82-320x213.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=160 A turma que frequenta o Quiosque do Russo na Barra da Tijuca talvez estranhe. Na próxima sexta-feira, um povo diferente vai tomar conta do pedaço. Alguns com sotaque arretado do Ceará, mais especificamente da terra de Padim Cícero, Juazeiro do Norte. Outros com acento gauchesco. Apesar das diferenças, todos pertencentes a uma mesma tribo, a dos corredores.

No centro das atenções, Kelma Alcântara, uma personal training de 34 anos, e o administrador Sandro Decker, de 48 anos. Eles se conheceram em 2014 quando o gaúcho foi trabalhar na indústria calçadista de Juazeiro. Corredor, Sandro logo se enturmou na Corcha, os Corredores da Chapada Araripe. Não demorou muito para se engraçar com Kelma, uma corredora forte de trilhas. O namoro podia ser abalado por razões profissionais já que Sandro precisou voltar para a industria calçadista de Novo Hamburgo. A distância, porém, teve o efeito contrário e apressou a decisão: sim, casamento, mas onde fazer a festa?

Foi quando o casal se deu conta de que os melhores amigos estariam todos na Maratona do Rio de Janeiro no próximo fim de semana. A maioria, aliás, para o desafio de correr a meia maratona no sábado e a maratona no domingo. Pronto, pretexto para ampliar o desafio e começar tudo na sexta-feira numa celebração um tanto original… no quiosque do Russo.

O horário do casamento fugirá dos padrões, 11 horas da manhã. Os trajes serão, digamos, livres. Camisa social, camiseta, calça, bermuda, tênis, chinelo, não há regras. Cerca de 40 convidados, todos os padrinhos e madrinhas são maratonistas. Feita a festa, dormir cedo para as provas de sábado e domingo. Kelma e Sandro não devem pegar tão pesado quanto de costume. Ela, já na estreia, mandou um 3h55 na maratona de Porto Alegre. Ele, que já tem 14 maratonas nas costas, cravou 3h25min também em Porto Alegre. Dessa vez, pretendem desacelerar. Ela de véu, ele de gravata, ainda há tempo para decidir o figurino. Certo mesmo serão os sorrisos. Não é sempre que duas almas gêmeas têm a chance de se encontrar e de se divertir na vida.

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Londrina em Londres https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/05/10/londrina-em-londres/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/05/10/londrina-em-londres/#respond Thu, 10 May 2018 14:38:27 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/d4ee6700-3f32-41f2-a8b1-b970c5ab00b0-320x213.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=153 Eram 350 mil bípedes no ano passado, todos com uma única obsessão: correr 42 quilômetros sem parar. O que já estava difícil, ficou um tantinho mais. A organização da Maratona de Londres divulgou o número de inscritos para o sorteio da maratona do ano que vem: inacreditáveis 414 168 pessoas. É quase como se toda a população de Londrina se inscrevesse para correr Londres como uma espécie de “contra-homenagem” à capital britânica (Londrina foi criada por um inglês em 1930 e assim batizada porque a neblina da região lembrava Londres).

Fossem sorteadas todas as 40 mil vagas já seria uma tremenda sorte estar entre os contemplados. Mas não é bem assim que funciona a coisa. A organização reserva um número expressivo de vagas para arrecadação beneficente, para patrocinadores e para residentes britânicos com índice de desempenho (ao estilo Boston). Estima-se que sobrem umas 20 mil vagas que vão efetivamente para sorteio. Ou seja, mais ou menos uns 20 candidatos por vaga. Será preciso muita reza brava para estar entre os felizardos. Apesar de toda minha descrença no tal do além, deixei uma humilde oferenda na esquina aqui de casa. Vai que…

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Fator “Breaking 2” https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/04/21/fator-breaking-2/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/04/21/fator-breaking-2/#respond Sat, 21 Apr 2018 13:10:06 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/IMG_1908-320x213.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=148 Faço dois adendos ao que escreveu meu parceiro de corrida Marcos Cruvinel no post anterior. As condições climáticas na hora da Maratona de Londres não são as ideais. Talvez tenhamos algo perto de 22 graus no final, a hora do “vamuvê”. É muito, o ideal é que estivesse uns 10 graus centígrados mais frio.

Em compensação, há um “clima de recorde”. Kenenisa Bekele é o melhor tempo dos que vão largar, 2h03min03, dois segundos mais rápido que Kipchoge. Depois, como me lembra meu outro parceiro Iberê Dias, tem moleque na parada. Guye Adole tem a melhor estreia de maratona em percursos que valem recorde, 2h03min46.

E todos vão correr com o “breaking 2” na cabeça, o insano projeto inventado pela Nike que quase quebrou a banca. No ano passado, na pista de Monza, na Itália, a Nike colocou três de seus melhores fundistas para tentar uma maratona abaixo de 2 horas. As condições eram ideais. Temperatura, umidade, circuito plano, um carro-madrinha dando o ritmo na frente com coelhos que se revezavam, tudo perfeito. Fora os tênis utilizados, que impulsionavam as passadas.

A marca não foi batida, mas, olha, foi por pouco. Kipchoge fechou a distância em 2h00min25. Não valeria para recorde pelas condições artificiais de corrida descritas acima, só que valeu para mostrar que o bicho-homem pode, sim, correr bem mais perto de duas horas. E isso não sai da cabeça de Kipchoge, Bekele, Adole e todos os canelas-finas que querem fazer história na Maratona de Londres nesse domingo.

Pra não ficar em cima do muro, dou meus palpites sobre as possibilidades de quebra de recorde masculino, feminino e britânico. Acho que Mo Farah vem com um 2h06min alto e derruba o recorde de 1985, quando Steve Jones fez 2h07min13. No feminino, Mary Keitany aproveita a ajuda dos coelhos e melhora a sua marca num 2h16min alto, bem longe, portanto, das 2h15min22 de Paula Radcliffe.

Já no masculino arrisco um recorde bonito. 2h02min baixinho desse incrível Eliud Kipchoge. Ele merece, só pela contribuição que deu no projeto do “Breaking 2”. Ele desafiou e quebrou barreiras no laboratório, está na hora de receber os louros na vida real. O Sportv 2 transmite tudo a partir das 4h45 da manhã com a narração do Serginho Arenillas e os comentários do Lauter Nogueira. Despertador aí, moçada

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Três recordes? https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/04/20/tres-recordes/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/04/20/tres-recordes/#respond Fri, 20 Apr 2018 20:43:58 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/IMG_1910-320x213.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=145 Ia escrever algo sobre Londres. Mas meu parceiro de maratona foi mais rápido no gatilho. Com a palavra, o doutor Marcos Cruvinel.

“Londres vem chamando a atenção do mundo nos últimos anos por dois motivos: para os amadores, representa uma prova excepcional para ser corrida. Organização impecável, clima ótimo, percurso plano, cidade turística, dezenas de milhares de atletas correndo, centenas de milhares apoiando nas ruas e… como é difícil participar. Maratonista é uma espécie que gosta de sofrer. Então, se é difícil, pronto, o pessoal já fica todo ouriçado. Esse ano, por exemplo, 385.049 sofredores entraram no sorteio das poucas vagas. Ano que vem, promessa de sofrência maior ainda.

Para profissionais e espectadores, representa a prova mais competitiva da atualidade. Londres vem conseguindo atrair os melhores dos melhores e se consolidando como a mais disputada das maratonas. Esse ano não será diferente. Uma prova, três recordes “impossíveis“ com chances de serem quebrados. Os olhos de todos estarão esbugalhados na largada desse domingo, 22.

O mais improvável de todos é o recorde mundial feminino da maratona. As 2h15min25 da britânica Paula Radcliffe, no longínquo 2003. Nenhuma outra atleta nunca chegou nem perto da marca dela. Esse ano, entretanto, o impossível pode acontecer. A postulante ao milagre se chama Mary Keitany. Bateu o recorde da maratona sem coelho masculino (2h17min01) ano passado e bateu o recorde da meia maratona em fevereiro deste ano. Além disso, foi anunciado que ela terá ajuda de coelhos masculinos. No seu vácuo, estará Tirunesh Dibaba, postulante a milagreira número 2. Provável não chega ser, mas nunca esteve tão menos longe de acontecer.

O recorde britânico da maratona é mais longínquo ainda. Era 1985 quando Steve Jones fez a marca de 2h07min13. Chegará a ser decepcionante se Mo Farah não bater essa marca. Mo, até ontem, era o rei das pistas nas provas de longa distância. Seus antecessores de reinado, Haile Gebrselassie e Kenenisa Bekele, têm marcas muito mais rápidas na maratona. Seria o natural que Mo seguisse a mesma linha e batesse esse recorde até com certa margem de segurança. Mas, em maratona, até o óbvio precisa cruzar a linha de chegada.

No quesito maratona, Eliud Kipchoge conquistou Majors, Olimpíada e, principalmente, respeito. Falta a ele o recorde mundial. Se, ao encerrar a carreira, ele não tiver sido recordista mundial da maratona ao menos um dia, será uma injustiça. Mas como pode-se esperar de tudo da vida menos que ela seja justa, ele terá que fazer força para superar os 2h02min57. De quebra, diminuirá o placar do jogo dos percursos, Berlim é rival de morte de Londres. O placar de recordes mundiais da maratona masculina, até o momento, mostra Alemanha 6 a 1. Ajuda aí, né, Kipchoge.”

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Bolero “Brasílis” https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/04/19/bolero-brasilis/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/04/19/bolero-brasilis/#respond Thu, 19 Apr 2018 14:43:59 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/IMG_5594-320x213.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=142 São 44 segundos que explicam um país https://youtu.be/ouMpcfHjvUo

No caso, “Terras Brasilis”. Estamos na periferia de alguma cidade brasileira. No caso, Remígio, Paraíba. Mas isso não é tão importante. Poderia ser São Paulo, Rio, Recife, Cuiabá, Belém ou Florianópolis. É tudo “Brasilis”, somos bem assim.

Estamos numa prova de rua popular. Provavelmente organizada com recursos escassos. Duas distâncias, 5 e 10 quilômetros. No final de uma ladeira, dá-se a separação das distâncias. No mundo perfeito, teríamos largadas separadas por grades, grandes placas de sinalização. No mundo real, largada toda misturada, placas pequenas e com tipologia tabajara. Como então evitar que os atletas não errem a distância? Ora, vamos utilizar nosso único trunfo, por assim dizer. A mão-de-obra barata, a boa vontade de voluntários e o gogó.

E aí, no final da ladeira, dá-se uma espécie de bolero esportivo. Os encarregados da organização, tal qual várias Elis Regina de tênis, berram a plenos pulmões, “Dez pra cá, cinco pra lá”. Por um instante, dá uma certa dó dos corredores feitos de baratas tontas, tentando entender pra onde ir. Mas é tudo tão atrapalhado que fica cômico. Não dá pra não rir. Quer algo mais “Brasilis” do que encararmos nossos problemas e carências com boas risadas? Dez pra cá, cinco pra lá.

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Maratona não tem o tamanho de SP https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/04/07/maratona-nao-tem-o-tamanho-de-sp/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/04/07/maratona-nao-tem-o-tamanho-de-sp/#respond Sat, 07 Apr 2018 13:14:31 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/IMG_1851-320x213.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=125 Só quem já correu pode ter certeza: a maratona não faz o menor sentido. 42.195 metros é distância para ser percorrida por veículos mecanizados, jamais por bípedes de livre arbítrio. Mesmo assim, todo ano e por todo o planeta, milhões se inscrevem em provas desumanas e, pasmem, acabam completando a distância. Nesse domingo, a partir das 7 horas da manhã, São Paulo é o ponto de encontro de aproximadamente cinco mil maratonistas. A 24ª edição da Maratona de São Paulo ainda terá 10 mil atletas amadores que se inscreveram nas outras três distâncias intermediárias (24 km, 8 km e 4 km). Todos largarão do Obelisco do Parque Ibiraquera e completarão as respectivas distância terminando no mesmo no mesmo Ibirapuera.

Maratonas mundo afora oferecem pequenas compensações para que o atleta contrarie as súplicas do corpo e não desista. Muitos pontos de hidratação, gente apoiando na rua, bandas de música são apreciadas pelos maratonistas. Mas um dos grandes atrativos na hora de escolher uma maratona é o seu percurso. Ele é plano, agradável, interage com a cidade, passa pelos principais pontos de interesse? A maratona de Nova York passeia pelos cinco distritos, atravessa pontes, termina no Central Park. Em Paris, Torre Eiffel, Rio Sena, palácios, parques, uma verdadeiro tour. A Maratona de Barcelona dá uma volta pelo Camp Nou, sobe Ramblas, passa na frente dos prédios do genial arquiteto Gaudí, pede a benção na Sagrada Família e ainda vê o mar. E São Paulo?

Bem, a maratona de São Paulo sai do Ibiraquera, percorre a região do Parque Villa-Lobos, que já é palco de tantas outras provas do calendário paulista, e dá muitas voltinhas na Cidade Universitária, também familiar dos corredores paulistanos que por lá treinam aos sábados. Monumentos, pontos históricos não estão no trajeto da maratona. “Adoraríamos fazer uma prova que andasse mais pela cidade, como Nova York. Mas São Paulo não ‘compra’ a prova, a população não vai pra rua, não quer o trânsito atrapalhado”, diz Marcelo Braga, assessor da Yescom, a empresa que organiza a prova.

A Maratona de São Paulo vem sendo a acossada pela SP City Marathon que acontece em 29 de julho e apresenta um percurso mais rico, largando no Pacaembu, fazendo um recorrido pelos principais pontos do centro, passando pelo Ibirapuera e terminando no Jockey Clube. Com três anos de existência, a City se aproxima no número de inscritos. A Maratona de São Paulo era a principal maratona brasileira em 2011, mas já foi ultrapassada pela Maratona do Rio que ano passado teve 6731 concluintes (São Paulo teve 4733 e a City 3791). É possível que o percurso tenha a ver com isso. Correr uma maratona já é o cão, um percurso mais atraente não leva ninguém ao nirvana mas ao menos distrai o cérebro que só pensa em pedir uma ambulância.

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Em busca do recorde https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/03/08/em-busca-do-recorde/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/03/08/em-busca-do-recorde/#respond Thu, 08 Mar 2018 15:40:49 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/IMG_1781-320x213.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=115 Não vai ser fácil. Não mesmo. Na minha 13ª maratona, vou tentar o recorde. Aos 51 anos, ir em busca de marcas pessoais parece não ser uma boa ideia. O tempo passa, e pesa.

Nesse domingo, 11/3, largarei para a Maratona de Barcelona em busca de uma marca inédita. Precisarei me superar, fazer o que nunca consegui: segurar a onda e fazer uma primeira metade de maratona sossegada. Precisarei imprimir os mais lentos primeiros 21 km de todas as maratonas que já fiz. Acha que é fácil? Estou programado para “fazer o melhor possível” nessa primeira parte. Sempre foi assim. Em algumas das minhas maratonas, consegui equilibrar razoavelmente o esforço nas duas metades da prova. Nas outras, quebrei no final. Mas em todas corri forte na primeira metade, em um ritmo próximo ou abaixo de 5 minutos por km.

Pois pra Barcelona, agora, isso seria um desastre. No ciclo de preparação, me machuquei, precisei parar pra tratar de uma contratura no posterior. Treinei pouco, escassas sessões de velocidade, não passei de 40 km semanais na média dos últimos meses. É pouco para quem se propõe a encarar uma maratona.

Estou mal preparado, ponto. E é evidente que, se não segurar o ritmo, a quebra vai se dar muito cedo. Preciso encarar Barcelona na primeira metade com respeito e cautela. Imagino que 5min15 seja um ritmo possível. Isso, faltava a palavra. Preciso fazer a maratona “possível” e, nesse caso, o possível é ser mais lento do que sempre fui na primeira metade. Na segunda parte, a mais dura, veremos o que sobra de combustível. A meu favor, um trajeto razoavelmente plano e temperatura que não deve passar de 16 graus. Veremos.

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