Correria https://correria.blogfolha.uol.com.br Mon, 19 Nov 2018 15:21:45 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Príncipe das galáxias https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/11/19/principe-das-galaxias/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/11/19/principe-das-galaxias/#respond Mon, 19 Nov 2018 15:21:45 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/IMG_0942-320x213.jpg https://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=197 Doutor Drauzio Varella, gênio da raça, já descreveu com a precisão habitual a sensação de acordar e correr:

“Digo por experiência própria. Há 20 anos corro maratonas, provas de 42 quilômetros que me obrigam a levantar às cinco e meia para treinar. Tenho tanta confiança na integridade de meu caráter, que fiz um trato comigo mesmo: ao acordar, só posso desistir de correr depois de vestir calção, camiseta e calçar o tênis. Se me permitir tomar essa decisão deitado na cama, cada manhã terei uma desculpa. Não há limite para as justificativas que a preguiça é capaz inventar nessa hora. Ao contrário do que os treinadores preconizam, não faço alongamento antes, já saio correndo, única maneira de resistir ao ímpeto de voltar para a cama. O primeiro quilômetro é dominado por um pensamento recorrente: ‘não há o que justifique um homem passar pelo que estou passando’. Vencido esse martírio inicial, a corrida se torna suportável. Boa mesmo, só fica quando acaba. Nessa hora, a circulação inundada de endorfinas traz uma sensação de paz celestial, um barato igual ao de drogas que nunca experimentei.”

Pura verdade, Doutor. É exatamente isso, começar a correr é mesmo um martírio. O cérebro mandando parar, quer dizer, sugerindo nem começar. E a gente lutando contra. Mas o martírio pode ser supremo caso… esteja chovendo. Cá para nós, é uma desculpa e tanto. Olhar pela janela e ver o ricochete dos pingos permite negociação, parece razoável adiar o treino molhado por uma sessão seca no dia seguinte. Várias vezes fiz esse acordo comigo e, na maioria, cumpri a segunda parte.

Só que tem dia que não dá. Falta agenda. É na chuva ou nada. Nessa segunda-feira chuvosa de novembro, me coloquei em sinuca. Iria viajar, não teria buracos na agenda, precisava treinar. E calcei os tênis torcendo para que a chuvinha desse uma trégua ao menos no início do trote. Porque fazem a total diferença os primeiros minutos de aquecimento. Começar seco, suar e depois tomar um chuvisco por cima é algo até agradável. Mas tomar uma ducha com o corpo frio, logo sentir os pés encharcados, entra na “categoria martírio” do Doutor Drauzio. Martírio premium, martírio master, inferno.

Só que há o outro lado, no caso, o do paraíso. Vencido o treino, planilha cumprida, viramos campeões. Era só um exercício físico, mas a sensação é de batalha épica terminada. Vencemos. Lutamos contra o dragão da preguiça matinal e espetamos nele a lança da perseverança. Como é mesmo aquela expressão das galáxias? Isso, depois de encarar um treino chuvoso, a gente se torna o príncipe das galáxias.

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Campanha pelo desarmamento… nas pistas https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/10/31/campanha-pelo-desarmamento-nas-pistas/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/10/31/campanha-pelo-desarmamento-nas-pistas/#respond Wed, 31 Oct 2018 14:44:11 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/IMG_2409-320x213.jpg https://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=191 Chega de tiros. Vamos viver em paz. Ninguém aguenta mais violência. Insuportável essa sensação de pânico pouco antes do primeiro tiro. É difícil até precisar quando vai doer mais. Se a dor mais aguda é pela ansiedade do que acontecerá na sequência ou se no momento do balaço.

Estou firme na campanha pelo desarmamento. Chega de tiros na planilha. É muito sofrimento. Conheço toda a teoria dos treinos intervalados. Tudo faz sentido, sei. Se estipula uma distância curta que pode variar de 50 metros a 1 quilômetro e sebo nas canelas. Um tempo para se recuperar e mais uma vez o tormento. E outra, e outra. Para aumentar nossa velocidade, aumentamos a frequência de passadas, fazemos muito mais força. É mais energia, mais sangue e mais oxigênio para os músculos. O corpo absorve a carga de treinamento e na próxima sessão estará apto para desafios mais exigentes.

Para corredores de longas distâncias (de 5 km até a maratona) como eu, tudo parece fazer menos sentido. Para que ser mais rápido se, no fundo, eu quero ser mais resistente? Mas os desgraçados dos tiros funcionam, sobretudo quando encaixados em uma planilha lógica que preveja evolução sem riscos de sobrecarga e lesões. Ficamos mais rápidos, claro, mas principalmente mais resistentes. Uma série semanal de tiros de 500 metros pode ser extremamente útil para uma maratona, acredite.

Sei de tudo isso. Mas o final de um treino intervalado bem feito é o que existe de mais próximo da morte. Falta ar, dói tudo. Vai passar depois. Só que na hora, não parece que vai passar depois.

Quando terminei hoje minha oitava série de tiros de 500 metros prometi que começaria imediatamente a campanha pelo desarmamento da planilha. Chega de tiros!

Até que eu me inscreva na próxima maratona e queira, como sempre, uma boa performance, posso assegurar:

É verdade esse bilete.

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Corredores elétricos https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/16/corredores-eletricos/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/16/corredores-eletricos/#respond Fri, 16 Feb 2018 18:06:44 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/IMG_1765-150x150.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=99 No princípio, era o cronômetro. O instrumento de medição da corrida era aquele objeto redondinho que se moldava nas mãos dos treinadores. O tempo era a unidade a ser dominada. Os atletas sabiam qual era a distancia percorrida e mediam o tempo.

A invenção do frequencímetro revolucionou os sistemas de treinamento. A sensação de esforço podia ser aferida pelos batimentos cardíacos. Zonas de frequência eram usadas para os diferentes tipos de treinos. Tudo ficou mais preciso, engenhoso.

A terceira revolução no treinamento de corrida veio pelo GPS. O satélite dando aquela forcinha ao corredor, um luxo. Distância, velocidade e ritmo, tudo ao alcance da mão. E on line, ainda por cima. Quando o frequencímetro foi incorporado nos relógios GPS parecia que havíamos chegado à última fronteira. O que mais o corredor poderia ter? Qual engenhoca poderia ser mais eficiente do que um GPS com frequencímetro?

A resposta está vindo de nossos primos esportivos. Os ciclistas, sempre próximos dos corredores, estão largando o GPS porque descobriram um instrumento bem mais útil para treinos e provas. Os medidores de potência tomaram conta do treinamento de ciclismo. Os aparelhinhos servem para aferir a força aplicada nos pedais e funcionam melhor do que qualquer frequencímetro. Funcionam melhor do que GPS por não necessitar do sinal do satélite, um pesadelo de corredores que amaldiçoam os túneis e viadutos que estragam os registros de treinos e provas.

Trata-se de uma verdadeira revolução. A engenhoca mede três planos de potência, horizontal, vertical e lateral. A gente nem percebe, mas na corrida usamos os três planos. Não corremos apenas para a frente, mas para cima (do contrário estaríamos apenas caminhando) e para o lado nas curvas. Tudo é esforço, tudo demanda energia. O medidor de potência é instalado no tênis e informa quantos watts estamos gastando. Watts? What’s? Pois é, viramos “corredores elétricos” agora…

Fato é que o medidor, usando as três dimensões, capta com precisão diferentes esforços em diferentes condições. Tem subida? Gastamos mais watts. Tem vento? No reloginho aparecerão mais watts. Nossa mecânica de corrida está mais econômica? O medidor mostrará um consumo menor. Assim se descobrem, como no frequencímetro, zonas de treinamentos. Cada atleta pode saber quantos watts poderá gastar a cada hora de treino ou de prova antes de “quebrar”. Com ajuda de um bom treinador é possível saber qual o ritmo ideal para cada altimetria. Só pelos watts.

Os medidores de potência já são uma realidade no ciclismo e estão apenas chegando na corrida. Não chegaram de verdade ainda, mas prometem revolução na maneira de perceber a corrida.

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Dever de resposta https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/09/dever-de-resposta/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/09/dever-de-resposta/#respond Fri, 09 Feb 2018 14:18:59 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/IMG_1762-150x150.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=96 A expressão é conhecida, “Direito de resposta”. Geralmente quando alguém não gosta do que foi escrito, o direito é pedido e concedido. A imprensa não aprecia muito ceder o seu espaço a outras vozes contrárias mas, em nome do jogo democrático, o direito é concedido. Meu post anterior (http://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/o-auxilio-moradia-e-a-ciclofaixa/) criticava corredores que invadem a ciclofaixa das bicicletas. O ciclista, corredor e leitor Francisco Forjaz me mandou um email com pontos de vista contrários. Concordo com vários de seus pontos, discordo ainda quanto ao uso da ciclofaixa. Ele não pediu direito de resposta. Pela qualidade de sua argumentação, tenho o dever de publicar o email. Chamemos isso de “dever de resposta”. Diga aí, Francisco:

“Trabalho de bicicleta e corro quatro vezes por semana. Meu mote de mobilidade nos últimos anos tem sido o que a mídia propaga: conviva! Assim, se estou na rua de bicicleta, atento para dar prioridade ao pedestre e luto pela atenção de motoristas de veículos automotores para que respeitem meus direitos. Nas ciclovias, respeito os demais ciclistas, inclusive os lentos e que lá estão a lazer, ainda que eu esteja com meu meio de transporte a caminho do trabalho. E tenho convivido com os corredores que optam por usar as ciclovias e ciclofaixas para realizar suas atividades.

Geralmente, corredor desenvolve uma velocidade de 8 a 14km/h, a mesma velocidade média das bicicletas que, ademais, tem limitação de 20km/h nas faixas. Com bom senso e educação é possível conviver. E, assim, quando deixo a bicicleta para rumar à minha casa correndo, eventualmente faço uso de ciclovias e, aos domingos, das ciclofaixas, pois são mais seguras em certos momentos para a prática do exercício e porque o convívio entre os praticantes é mais equilibrado do que se eu corresse nas ruas ou calçadas.

Sua coluna, portanto, me parece fruto de intolerância e uma amostra de dificuldade de conviver com os outros de forma harmoniosa. As bicicletas conquistaram seu espaço? Ótimo! Mas isso autoriza que esse espaço lhe seja exclusivo, excluindo de seu gozo um corredor que, hoje, sofre as mesmas mazelas que o ciclista até então sofria? Acolher ou largar os corredores à sua própria sorte? Você fez sua escolha. Eu, com base em diferentes princípios e com uma visão bem diferente de sociedade, fiz a minha.

Sobre a comparação feita com o auxílio moradia, você comparou banana com cadeira. Um fala, acima de tudo, sobre a ética daquele que tem o imóvel e pode (deve) abrir mão do auxílio. A ilegalidade e inconstitucionalidade somente estão sendo levantadas pela postura não ética e responsável desses servidores.

Correr na ciclovia e na ciclofaixa é ilegal. A lei municipal veda. Como veda uma série de atitudes praticadas pela maioria dos ciclistas. Como o CNT veda a circulação de ciclistas em calçadas, ainda que em alguns casos e trechos ela seja o mais seguro e recomendável, se usada com bom senso. Assim, a questão aqui é bom senso. É conviver. Ter senso de comunidade e sociedade. Assim, se fosse para comparar os dois assuntos, eu diria que o servidor que abre mão do auxílio age com o mesmo senso de responsabilidade que o ciclista que acolhe o corredor no ‘seu’ espaço….”

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O auxílio-moradia e a ciclofaixa https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/o-auxilio-moradia-e-a-ciclofaixa/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/o-auxilio-moradia-e-a-ciclofaixa/#respond Mon, 05 Feb 2018 12:22:52 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/IMG_1761-150x150.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=93 São Paulo, manhã de domingo. Dia em que as bicicletas marcam o gol de honra no violento jogo urbano das avenidas. O resultado desse confronto é previsível, os carros vencem sempre de goleada, sabemos. Mas, na manhã de domingo, tem golaço das bikes. A cidade, por algumas horas, é prioridade delas. As ciclofaixas convidam o cidadão a se exercitar. E, na cidade dos carros, temos um fugaz domínio dos veículos de duas rodas não motorizados.

Eis que surgem então em uma das ciclovias da Zona Sul vários corredores fazendo seu treino matinal. Faz sol, mas a temperatura está amena, perfeita para o trote. Tudo parece fazer sentido a não ser o fato de que a turma está correndo em um lugar reservado naquele momento para bicicletas. Exclusivamente para bicicletas! Está expresso nas placas, todo mundo sabe que é assim. Os corredores, porém, seguem, altivos, em seu treino, acham que não é com eles. Estão atrapalhando o tráfego de bicicletas, oferecendo riscos em uma ciclovia que, aos poucos vai ficando mais povoada.

O corredor acha que tem esse direito. Presume que a cidade e aquele espaço também são dele. Mesmo com as placas dizendo que não, o corredor acha que a ciclofaixa pode, sim, ter gente correndo. Afinal a metrópole é cruel, tudo é difícil, falta espaço, justificativas não faltam.

É aí que entramos no auxilio-moradia dos juizes brasileiros. Um complemento salarial que foi criado, em teoria, para resolver o problema de moradia de uma classe que costuma pingar por muitas cidades no decorrer da carreira. Com o tempo, o auxilio, que deveria ser usado apenas pelos “sem-casa”, foi incorporado como um “direito” dos que possuem imóvel próprio. No racional dos magistrados, o “entendimento” é que a verba ajuda a corrigir uma distorção no reajuste dos salários (como se o problema fosse apenas deles…). O fato é que, em nome de uma distorção, eles estão confortáveis para defender outra. O juiz, que deveria ser o guardião da… justiça, é um tanto flexível para defender o seu.

O corredor na ciclofaixa é uma espécie de juiz com o auxilio-moradia. O direito individual (ou classista, no caso) se sobrepõe à regra geral. O corredor e o magistrado, de uma certa forma, tentam fazer justiça com as próprias mãos. Ou com os próprios pés, no caso.

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Gamificação do treino https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/02/gamificacao-do-treino/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/02/gamificacao-do-treino/#respond Fri, 02 Feb 2018 12:19:50 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_1758-180x120.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=85 Como contei no último post, quem não tem um treinador pra chamar de seu precisa desenvolver certas técnicas motivacionais para acordar com disposição. Outro dia resolvi inventar um treino maluco. Bom, não é bem uma invenção minha, treinos progressivos existem desde sempre. A diferença é que criei pequenas regras que transformaram meu treino quase em um jogo. É o tal do conceito da “gamificação”, tendemos a realizar tarefas difíceis com mais gosto quando elas têm uma cara de joguinho. Pronto. Foi o que eu precisava para sair da cama feliz d vida e querendo “gabaritar” a nova brincadeira.

Meu progressivo era simples na regra e complicado na execução. Estabeleci que iria correr 9 quilômetros e que cada quilômetro precisaria sair mais rápido do que o anterior. Ou seja, se exagerasse no ritmo nos primeiros eu chegaria morto nos últimos. Pra complicar, determinei que o primeiro quilômetro precisaria sair já num ritmo intermediário para os meus padrões, 5min30 por km que equivale a 11 km/h. A progressão precisaria ser realmente lenta, quanto mais próximos os ritmos mais chance eu teria de sobreviver à gincana.

Comecei bem, cravei 5min30 no primeiro km, segundo meu GPS. Fui bem demais no
segundo, 5min24, mas dei bobeira no terceiro, 5,12. Rápido demais, e, no quarto quilômetro, repeti o erro ao fechar em 5 minutos redondos. Fui com muita sede ao pote.

Precisava agora controlar mais o ritmo e exagerei no controle, errando e fazendo 5min02 no quinto. Não me abalei com os dois segundos de “estouro”, considerei que o jogo seguia valendo, afinal sou o guardião das regras. O importante seria a parte final do progressivo, ali, sim, o jogo se decidia.

Talvez preocupado com o que tinha acabado de acontecer, forcei demais no quilômetro seis e fechei em 4min48. Xi, tinha mais três quilômetros até o final e o cansaço começava a bater. O sétimo me deu esperança, fiz em 4min43, me senti um corredor suíço tal a precisão da redução. No oitavo, de novo, baixei apenas cinco segundinhos e fiz em 4min38. Só faltava o último e ainda tinha fôlego para apertar o ritmo. Dito e feito. Fiz o quilômetro em 4min28 e me decretei vencedor do desafio apesar da bobeada no quilômetro cinco.

É a vantagem de ser o único participante do jogo que eu mesmo criei. Não é legal mesmo essa história de gamificação?

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Quem manda sou eu https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/01/quem-manda-sou-eu/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/01/quem-manda-sou-eu/#respond Thu, 01 Feb 2018 12:14:55 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_0943-120x180.png http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=82 Vantagem de não ter treinador é não haver ninguém pra ficar dando ordens.

A desvantagem de não ter treinador é não haver ninguém pra ficar dando ordens…

Estou nessa situação há algum tempo. A experiência de editor de revista de corrida me deu algum conhecimento e a liberdade para ligar para os treinadores quando tenho alguma dúvida para elaborar ou modificar minha própria planilha. Gosto de treinar nos horários e dias possíveis, aprendi a respeitar os avisos do meu corpo. Cancelo treinos, troco dias, tenho uma planilha um tanto “móvel”, por assim dizer.

Mas respeito algumas premissas. Jamais treino forte em dois dias seguidos, evito treinar cansado, tento sempre acomodar numa semana dois treinos intervalados de qualidade mais um longo. Já percebi que para mim funciona bem a lógica de treinar menos e melhor. Aprendi ainda que descansar é um treino igualmente importante.

Costumo conviver bem com essa quase solidão. Treino sozinho, planejo sozinho meus treinos, não tenho ninguém pra cobrar performance. Mas tem dia que falta um inventivo, falta… uma cobrança externa. E aí fica difícil acordar faceiro para o treino da manhã. Sobretudo quando o treino é daqueles doídos como um longo muito longo ou aqueles tiros muito curtos feitos com o coração próximo de um colapso.

Desenvolvi uma técnica eficiente para a véspera desses treinos mais duros. É uma espécie de “autoengano programado”. Em um português mais claro, minto deslavadamente para mim mesmo. Acabo me convencendo que estou cansado demais e só poderei fazer um trote vagabundo no parque, nada mais.

É o suficiente para conseguir sair da cama, tomar o café e me arrastar pelas ruas do bairro. Dez minutos mais tarde, aquecido e já no parque, me dou conta que não estava tão cansado como no fingimento de minutos atrás e faço o treino programado inicialmente. É tudo muito idiota. Sei o tempo todo que estou me enganando e gosto de me enganar. O importante é que funciona.

Outra técnica curiosa foi inventar treinos “mais lúdicos”. Dia desses resolvi dar uma “gamificada” na planilha, mas deixo a história pra amanhã.

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Juiz lentão https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/25/juiz-lentao/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/25/juiz-lentao/#respond Thu, 25 Jan 2018 13:25:19 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_1753-180x120.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=79 Aconteceu há alguns anos. Eu dirigia na época a revista Placar. Estava treinando para a maratona, andava em forma. Bons tempos, 10 quilômetros na faixa de 44 minutos, meia abaixo de 1h40min, me sentia forte. Aí li a notícia no jornal que uma série de árbitros importantes do futebol brasileiro estavam afastados por não conseguirem passar nos testes físicos. Como assim? Quanta incompetência, pensei eu. E se eu, já beirando os 50 anos e “amador profissional”, fizesse uma reportagem mostrando que era possível passar no teste?

Precavido, antes de colocar a reportagem na pauta, fui ao Parque do Ibiraquera fazer o “teste do teste”. Eram dois desafios. Precisava dar seis tiros de 40 metros em menos de 6 segundos. Depois, 40 tiros de 75 metros em menos de 15 segundos com um intervalo caminhando de 20 segundos. Acho que é fácil, pensei. Talvez sofra um pouco na primeira série, já que nunca fui um velocista.

Fato. Sofri. Como fiz sozinho a tentativa, sem a ajuda de alguém na cronometragem, as medições saíram imprecisas. Mas sei que estava fracassando. Um cansaço descomunal, e a performance despencando a cada tentativa. Era evidente que minha carreira de árbitro terminava antes de iniciar. Pior, eu não tinha nem uma reportagem a fazer, nada a provar. Infelizmente não deu.

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Ar condicionado na praia https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/12/ar-condicionado-na-praia/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/12/ar-condicionado-na-praia/#respond Fri, 12 Jan 2018 13:05:27 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_1712-128x180.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=73 Sabe aquele casaquinho de nylon bem fininho que bem dobrado cabe no bolso da calça? O nome técnico dele é corta-vento, mas eu o apelidei de “SOS Rio”. Essa levíssima peça de roupa tem me salvado nas minhas andanças pela cidade maravilhosa. O Rio continua lindo e quente pra dedéu, é verdade, mas o carioca médio não se conforma com o aquecimento global e local. Ele combate o problema com resfriamento brutal e implacável. Sempre que possível ele usará seu raio congelante. Em casa, no carro, no cinema, no escritório, no metrô, onde estiver, o ar condicionado estará na temperatura mínima e na velocidade máxima.

Quarenta graus lá fora e 16 graus aqui é quase um mantra carioca. Odeio o calor, ando pela sombra, estou longe de ser friorento. Mas não consigo entender essa tara pelo contraste. Por que baixar tanto a temperatura interna? É mais maluco ainda quando no inverno carioca, em uns agradáveis 20 graus, escuto o motorista se queixar da onda de frio na cidade enquanto seu táxi está em uns 16 graus com direito a ventania no painel.

O meu corta-vento, quer dizer, meu “SOS Rio”, tem me salvado de boas. Saco ele da mochila sempre que necessário e volto a me sentir bem. Ainda vou entender melhor a psiquê a carioca e conseguir captar o fenômeno. Mas antes preciso da ajuda dos confrades aqui para me explicar um outro fenômeno (podem responder pelo Twitter mesmo, no @sxavierfilho).

Aconteceu na manhã de hoje quando corria na Barra da Tijuca. Sem sol, a temperatura estava agradabilíssima, sobretudo para o verão. Era coisa de 20 graus, quase sem vento. Mas a medida que me aproximava do final da Barra, para o lado do Recreio, vinham umas rajadas de vento frio, sensação de uns três graus centígrados abaixo. Aliás, a sensação era exatamente a mesma de estar numa estação e de repente entrar no vagão do metrô. Sensação de… ar condicionado ligado. Pode?

As rajadas aconteciam justamente quando havia espaço entre os prédios. Entendo o vento maior, não a diferença de temperatura. Como funciona isso? O ar mais frio vem do mar ou das montanhas? Os prédios criam uma barreira e o ar esquenta? Algum especialista que possa me ajudar a entender? Só não venham me dizer que algum carioca esperto inventou um ar condicionado gigante na Barra da Tijuca, essa não…

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São Silvestre do B https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/14/sao-silvestre-do-b/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/14/sao-silvestre-do-b/#respond Thu, 14 Dec 2017 15:25:10 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=43 A São Silvestre é mais do que uma corrida. É uma forma de se conectar à cidade de São Paulo. Percorrer a pé os 15 km que são dos carros nos outros dias todos do ano é uma glória. Só que é difícil correr a São Silvestre. Difícil por duas razões. Primeiro porque as inscrições já encerraram. Segundo porque os 30 mil inscritos mal conseguem correr de verdade na São Silvestre. É um atropelo só. Muita gente caminhando, dificuldade para trotar.

Mas há formas alternativas de correr a São Silvestre. Uma delas já acontece neste domingo, 17, com largada às 6 da manhã. A assessoria esportiva Run & Fun, do treinador Mário Sérgio Silva, organiza uma espécie de treinão no percurso da São Silvestre. Há três postos de hidratação espalhados pelo caminho. Mário Sérgio cobra uma taxa de inscrição de 60 que é revertida para a entidade beneficente Esporte Solidário.

Para se inscrever basta um depósito de R$ 60 direto na conta corrente da Associação Esporte Solidário (AESFUN)
CNPJ: 06.942.111/0001-01
Banco Itaú
Agência 0741
CC 68113-4
Em seguida, mande e-mail com seu nome (ou do participante) e o comprovante do deposito para administrativo@esportesolidario.org.br

Outra forma divertida de completar uma espécie de São Silvestre é encarar a “Caprirun”. O jornalista corredor Ricardo Capriotti (do Programa Fôlego, da Rádio Bandeirantes) inventou a brincadeira há alguns anos. Cansado do tumulto da São Silvestre, reuniu amigos para um treino na manhã do primeiro dia do ano. Não é exatamente o mesmo percurso da São Silvestre, nem os mesmos 15 km. Capriotti condensou tudo em 10 quilômetros sem qualquer estresse de performance. Um verdadeiro passeio pela São Paulo sonolenta do primeiro dia do ano. Com o passar dos anos, o grupo de amigos foi crescendo, vieram os amigos dos amigos, conhecidos e desconhecidos. A ideia é essa, confraternizar de forma saudável, entrar o ano com o pé direito, depois com o esquerdo, com o direito… Não há inscrição, taxa, nada. Basta chegar às 7 da manhã do dia 1º e se divertir. Há muitas formas de correr a São Silvestre. Todas valem a pena.

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