Correria https://correria.blogfolha.uol.com.br Mon, 19 Nov 2018 15:21:45 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Corredores elétricos https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/16/corredores-eletricos/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/16/corredores-eletricos/#respond Fri, 16 Feb 2018 18:06:44 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/IMG_1765-150x150.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=99 No princípio, era o cronômetro. O instrumento de medição da corrida era aquele objeto redondinho que se moldava nas mãos dos treinadores. O tempo era a unidade a ser dominada. Os atletas sabiam qual era a distancia percorrida e mediam o tempo.

A invenção do frequencímetro revolucionou os sistemas de treinamento. A sensação de esforço podia ser aferida pelos batimentos cardíacos. Zonas de frequência eram usadas para os diferentes tipos de treinos. Tudo ficou mais preciso, engenhoso.

A terceira revolução no treinamento de corrida veio pelo GPS. O satélite dando aquela forcinha ao corredor, um luxo. Distância, velocidade e ritmo, tudo ao alcance da mão. E on line, ainda por cima. Quando o frequencímetro foi incorporado nos relógios GPS parecia que havíamos chegado à última fronteira. O que mais o corredor poderia ter? Qual engenhoca poderia ser mais eficiente do que um GPS com frequencímetro?

A resposta está vindo de nossos primos esportivos. Os ciclistas, sempre próximos dos corredores, estão largando o GPS porque descobriram um instrumento bem mais útil para treinos e provas. Os medidores de potência tomaram conta do treinamento de ciclismo. Os aparelhinhos servem para aferir a força aplicada nos pedais e funcionam melhor do que qualquer frequencímetro. Funcionam melhor do que GPS por não necessitar do sinal do satélite, um pesadelo de corredores que amaldiçoam os túneis e viadutos que estragam os registros de treinos e provas.

Trata-se de uma verdadeira revolução. A engenhoca mede três planos de potência, horizontal, vertical e lateral. A gente nem percebe, mas na corrida usamos os três planos. Não corremos apenas para a frente, mas para cima (do contrário estaríamos apenas caminhando) e para o lado nas curvas. Tudo é esforço, tudo demanda energia. O medidor de potência é instalado no tênis e informa quantos watts estamos gastando. Watts? What’s? Pois é, viramos “corredores elétricos” agora…

Fato é que o medidor, usando as três dimensões, capta com precisão diferentes esforços em diferentes condições. Tem subida? Gastamos mais watts. Tem vento? No reloginho aparecerão mais watts. Nossa mecânica de corrida está mais econômica? O medidor mostrará um consumo menor. Assim se descobrem, como no frequencímetro, zonas de treinamentos. Cada atleta pode saber quantos watts poderá gastar a cada hora de treino ou de prova antes de “quebrar”. Com ajuda de um bom treinador é possível saber qual o ritmo ideal para cada altimetria. Só pelos watts.

Os medidores de potência já são uma realidade no ciclismo e estão apenas chegando na corrida. Não chegaram de verdade ainda, mas prometem revolução na maneira de perceber a corrida.

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Ícaro, uma verdade inconveniente https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/13/icaro-uma-verdade-inconveniente/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/13/icaro-uma-verdade-inconveniente/#respond Wed, 13 Dec 2017 14:54:39 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=37 Todo mundo que trabalha com esporte deveria ver esse documentário. Todo mundo que gosta de jornalismo precisa ver esse filme. Todo mundo que estuda geopolítica não pode deixar de ver a obra. Estou falando de Ícaro, maravilhoso documentário que já está disponível no Netflix.

O filme começa de um jeito e termina de outro. A primeira ideia do documentarista Bryan Fogel era contar uma história de doping. Ciclista amador da pesada, ele queria resgatar a trajetória trapaceira de Lance Armstrong. Procurou Don Catlin, chefe do Laboratório Olímpico da Universidade da Califórnia, que tinha testado mais de 50 vezes a urina de Lance… e não havia encontrado qualquer sinal de doping. Fogel queria que Catlin o ajudasse na missão de pedalar bombado e não ser pego. E o filme até começa assim, só que o cientista dá pra trás e apresenta o documentarista a um amigo das antigas, o divertido Grigory Rodchenkov. Aí muda tudo…

Rodchenkov é o chefe do laboratório de Antidopagem da Rússia, mas se mostra mesmo um tremendo expert em trampas. Ele logo simpatiza com Fogel e o introduz ao submundo do doping. Na sequência, em novembro de 2014, é denunciado pela TV alemã ARD como o cabeça do esquema de doping russo. Aí o filme passa a ser sobre isso. Ameaçado em seu país, Rodchenkov resolve colaborar com a Justiça americana e oferece preciosas informações sobre o esquemão. O Atletismo russo é banido das Olimpíadas do Rio e a Rússia é excluída dos próximos Jogos de Inverno muito em cima do que contou Rodchenkov.

O filme é maravilhoso. Uma aula de jornalismo, de TV, de narrativa. Apesar da gravidade dos fatos, é divertido porque Fogel é bem humorado e Rodchenkov se mostrou uma figura cômica. Mais do que tudo, no entanto, o filme é um adeus às ilusões. Fica evidente que o doping sempre vencerá o anti-doping. O gato vai correr, correr, correr e o rato vai sempre conseguir fugir. No filme, fica claro que o doping é decisivo no esporte de alto rendimento. Ele, fundamentalmente, “vale o risco”.

Vendo Ícaro, me lembrei da discussão sobre doping nos Jogos Olímpicos do Rio no ano passado. Fiquei quase isolado nos debates por defender a exclusão de todo o time russo (não só do Atletismo) das Olimpíadas. Minha tese é que por se tratar de um caso de “doping de Estado” seria fundamental uma punição exemplar, radical mesmo.

Nesse caso, o exagero seria menos maléfico do que a omissão. Ah, mas pode ter algum atleta russo limpo? Segundo Rodchenkov, ao menos 50% da turma estava turbinada, nunca teremos certeza de quem era inocente. Nossa certeza é que os comandantes são culpados e trapaceiros. E que todos os atletas de outros países que competiram limpos estavam em desvantagem. Não era apenas a turma do Atletismo que trapaceava, o presidente russo Vladimir Putin sabia e sabe de tudo. Quantos ouros russos no Rio não estão manchados?

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