Correria https://correria.blogfolha.uol.com.br Mon, 19 Nov 2018 15:21:45 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Mulheres com asas https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/09/10/mulheres-com-asas/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/09/10/mulheres-com-asas/#respond Mon, 10 Sep 2018 13:52:51 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/IMG_2338-320x213.jpeg https://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=172 Hoje pego carona no voo alheio. Quem escreve é a leitora Ana Luiza Castro. Não há o que reparar ou acrescentar. Linda história que ela compartilhou comigo e eu compartilho aqui:

“Temos uma equipe de corrida, mas somos diferenciadas… e humildes também (risos). Mas, sem falsa modéstia, a turma é muito bacana e virou uma grande família. Somos mais de 150 Mulheres com Asas, sim, a equipe tem esse nome. WomenWithWings, ou WWW, como foi carinhosamente apelidado.

Na nossa família, temos corredoras experientes e até vencedoras de provas, maratonistas que fazem Majors e provas por todo mundo, mas temos muito mais que isso. Temos mulheres que venceram o câncer e na corrida, nos intervalos de tratamento, se equilibravam novamente.

Temos Dona Maria, uma senhora com seus mais de 70 anos (faxineira até hoje) que só completa a sua longa jornada após realizar seus treinos. Temos mãe de família com três filhos e um “especial”, que encontra a paz quando calça seus tênis. Eu poderia ficar muitas horas aqui escrevendo cada história linda que eu escuto toda vez que uma aluna aproxima sua asinha da minha. Tenho o privilégio de escutar, treinar e acolher todas estas mulheres que se dizem muito mais fortes desde que entraram nossa equipe.

Queria humildemente, com as “histórias do WWW” (https://womenwithwings.wordpress.com/), sugerir aos leitores uma corrida mais despretensiosa, sem paces maravilhosos, sem índices a serem conquistados e marcas pessoais a serem batidas (não podemos achar que só isso é importante), apenas humanizar este lindo esporte. E, principalmente, trazer para todos os leitores que a corrida é, SIM, para todos. Sei que você tem um público que leva a sério o esporte (eu sou uma delas, estou indo para Berlim tentar bater meu tempo na Maratona) mas eu acho que há um vasto número de pessoas (a maioria) que quer correr apenas com um simples objetivo: ser feliz.”

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Proibido para menores https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/03/02/proibido-para-menores/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/03/02/proibido-para-menores/#respond Fri, 02 Mar 2018 13:25:43 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/IMG_1141-320x213.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=106 Nunca tinha parado pra pensar. Mas o tema surgiu quando minha filha quis participar de uma prova de 5 km. Correr é mesmo algo proibido para menores. Tive que fazer força pra achar uma prova permitida para uma jovem então com 15 anos. A maioria dos regulamentos brasileiros fala em um mínimo de 16 anos já completos no dia da prova. Quase todos eles citam a regra da CBAt, a Confederação Brasileira de Atletismo. Fui lá conferir. A CBAt se inspira em normas da IAAF, a Federação Internacional de Atletismo. Na gringa, fala-se em um mínimo de 14 anos para os 5 km, em 16 anos para os 10 km e em 18 anos para provas de 10 a 30 km. Para a maratona, acreditem, apenas maiores de 20 anos. Deve ser mais simples pilotar um caça da FAB do que participar de uma prova de rua como a maratona.

Há algo estranho com o nosso esporte, primeira conclusão que surge na mente. Estamos, de alguma forma, afugentando a moçada das ruas. Não permitimos que eles acompanhem os pais, que eles possam, eventualmente, gostar cedo da brincadeira. Citei o exemplo da maratona, mas estou me referindo mais às provas de 5 ou 10 km. Conversando com médicos e treinadores, a gente descobre que correr distâncias como 10 km não é uma violência fisiológica para corpinhos em formação. Correr faz bem, sobretudo com uma boa orientação. Isso vale para adultos de 30 anos, para os veteranos de 70 anos e, por que não, para a garotada de 14 ou 15 anos. Nos Estados Unidos, a moçadinha corre adoidada na escola e nas ruas.

Uma cena me marcou quando fui correr a maratona de Nova York em 2009. No dia seguinte à prova, resolvi passear no Central Park e fui até o “Reservoir”. É um dos lugares mais icônicos da cidade, já foi cenário de muitos filmes, os corredores adoram treinar em volta do reservatório de água do parque. Quando cheguei lá, tinha uma moçada começando o treino. Uns 20 garotos e garotas na faixa de 13, 14 anos. Parei pra ver e escutar o “coach” marcando os tempos. Elas estavam girando os 2,5 km do reservatório em torno de 10 minutos. Isso as meninas… Porque os garotos rodavam mais perto dos nove minutos. Ou seja, elas nos quatro minutos por km e eles nos três minutos e carquerada. Uau! Logo depois, encontrei toda a turma no metrô. Estavam voltando juntos para a escola. Aquilo deveria seguir uma rotina semanal. Jovens treinando forte para as competições de estudantes e, provavelmente, preparando-se também para distâncias maiores. Dessa abundância de gente treinando surgem os talentos esportivos.

É claro que no Brasil estamos longe de ver cenas parecidas. Esporte não conversa com educação por aqui. Mas, se já não é fácil garimpar atletas, também não precisamos afugentá-los. Que tal rever os regulamentos das provas de rua? Podemos ter mais famílias inteiras em nossas corridas. É só deixar que filhos possam correr com pais. Hoje corrida é algo proibido para menores.

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Cérebro trapaceiro https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/26/cerebro-trapaceiro/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/26/cerebro-trapaceiro/#respond Mon, 26 Feb 2018 12:55:39 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/IMG_1772-320x213.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=103 Se tivesse que levar meia dúzia de palavras para uma ilha deserta, uma delas seria “trapaceiro”. Vá até o espelho do banheiro e repita algumas vezes a expressão “seu trapaceiro, seu trapaceiro”. Perceba musicalidade do vocábulo. O “tra”nasce com a língua entre os dentes, o “pa” requer uma inflada na bochecha, o “cei” se assemelha a uma sibilado de serpente venenosa e o “ro” vem na sequência com um biquinho. A palavra perfeita para fonoaudiólogos corrigirem erros de seus pacientes.

Adoro também as possibilidades semânticas de trapaceiro. É uma espécie de leite condensado, entra nas receitas mais variadas. Cabe muito bem para aquele cafajeste (outra palavra sonora) da concessionária que oferece a metade do valor pelo nosso carro, tratado com tanto carinho nos últimos anos. Fica perfeita para codificar 98% dos habitantes do nosso Congresso, é exata para os nossos pequenos, quando eles nos surram nas partidas de memória (como eles sabem que o segundo quadradinho do palhaço era justamente o primeiro da terceira fileira?).

Como vocês podem perceber, acabei me perdendo em divagações. Ia falar sobre as trapaças do cérebro dos corredores. Um desses truques, tão manjado quanto eficiente, é a “fixação de objetivos múltiplos”. Funciona mais ou menos assim: como se fôssemos uma grande repartição pública, o cérebro envia pedido em duas vias carbonadas para o senhor de blazer xadrez da “central de objetivos”. O documento que ali chega deve ser analisado com rigor pelo burocrata. Se estiver dentro dos conformes, ele usará seu velho carimbo na almofadinha de tinta e golpeará com energia o ofício. O contínuo com a camisa do Corinthians passará por ali, pegará o papel e seguirá para as próximas etapas. Começará pelo andar do pulmão. Ao deixar o documento na mesa do diretor do órgão, verá a reação: dez quilômetros no domingo em 54 minutos? “Verei o que posso fazer.”

O contínuo corintiano esperará a assinatura do pulmão e seguirá a sua peregrinação, indo para o “departamento de pernas”. O encarregado balança a cabeça e diz: “55 minutos, e já está bom demais! Esse pessoal está sempre forçando, não nos dá o voucher da musculação e ainda quer moleza”. Assinará mesmo assim, sacudindo a cabeça em sinal de desaprovação.

A cópia do objetivo desabará também na mesa do responsável pelo aparelho digestivo. Outro reclamão. “Já estou vendo tudo. Na noite do sábado, aquele copinho de cerveja vai virar quatro latinhas. Tomará um café apressado, criará uma azia danada por aqui e ainda quer desempenho? É brincadeira…” Rogará uma praga para o time do contínuo e assinará o papel.

Por fim, e por ironia, a cópia chegará ao próprio cérebro, o arquiteto de tudo. Ele ajustará os óculos de leitura sobre o nariz, colocará os pés sobre a mesa, lerá tudo e assinará o que planejou. É que o cérebro exerce dupla função. Trabalha no setor de planejamento e faz um bico na área de execução. No domingo, por exemplo, fará hora extra e estará administrando a corrida, dosará ritmos, fará com que tudo aconteça como o planejado no papel.

Certo, mas cadê a trapaça nessa história? Bem, aí está a genialidade do cérebro. Já conhecendo os meandros dessa organização e perfeita que é o corpo humano, sabe como tirar o melhor de cada um. Ao invés de traçar um único objetivo, apresenta logo uns três ou quatro. Para corrida de domingo, por exemplo, escreveu assim:
Objetivo mínimo: terminar a prova se caminhar.
Objetivo dois: acabar antes do Palhares do almoxarifado.
Objetivo três: fechar abaixo da marca redonda de 55 minutos.
Objetivo quatro: cravar 54 minutos e bater o recorde pessoal.

Ardiloso, o cérebro sabe como funciona esse povo que só reclama. Se escreve apenas o objetivo real, que é o quarto, o pessoal vê a trabalheira que daria, faz corpo mole e nada feito. Por isso, traça metas intermediárias, já sabendo que no calor da prova todo mundo fica disposto a dar um pouco mais. Outra vantagem dos objetivos múltiplos é saber que eles previnem depressões futuras. É aquela história de quermesse: o primeiro prêmio dá uma bicicleta, o segundo, o rádio-relógio, e bonezinho para todos os dez primeiros. Mesmo perdendo o grande prêmio, o sujeito volta pra casa se sentindo um vencedor com o bonezinho. O cérebro é ou não é um trapaceiro?

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Dever de resposta https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/09/dever-de-resposta/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/09/dever-de-resposta/#respond Fri, 09 Feb 2018 14:18:59 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/IMG_1762-150x150.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=96 A expressão é conhecida, “Direito de resposta”. Geralmente quando alguém não gosta do que foi escrito, o direito é pedido e concedido. A imprensa não aprecia muito ceder o seu espaço a outras vozes contrárias mas, em nome do jogo democrático, o direito é concedido. Meu post anterior (http://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/o-auxilio-moradia-e-a-ciclofaixa/) criticava corredores que invadem a ciclofaixa das bicicletas. O ciclista, corredor e leitor Francisco Forjaz me mandou um email com pontos de vista contrários. Concordo com vários de seus pontos, discordo ainda quanto ao uso da ciclofaixa. Ele não pediu direito de resposta. Pela qualidade de sua argumentação, tenho o dever de publicar o email. Chamemos isso de “dever de resposta”. Diga aí, Francisco:

“Trabalho de bicicleta e corro quatro vezes por semana. Meu mote de mobilidade nos últimos anos tem sido o que a mídia propaga: conviva! Assim, se estou na rua de bicicleta, atento para dar prioridade ao pedestre e luto pela atenção de motoristas de veículos automotores para que respeitem meus direitos. Nas ciclovias, respeito os demais ciclistas, inclusive os lentos e que lá estão a lazer, ainda que eu esteja com meu meio de transporte a caminho do trabalho. E tenho convivido com os corredores que optam por usar as ciclovias e ciclofaixas para realizar suas atividades.

Geralmente, corredor desenvolve uma velocidade de 8 a 14km/h, a mesma velocidade média das bicicletas que, ademais, tem limitação de 20km/h nas faixas. Com bom senso e educação é possível conviver. E, assim, quando deixo a bicicleta para rumar à minha casa correndo, eventualmente faço uso de ciclovias e, aos domingos, das ciclofaixas, pois são mais seguras em certos momentos para a prática do exercício e porque o convívio entre os praticantes é mais equilibrado do que se eu corresse nas ruas ou calçadas.

Sua coluna, portanto, me parece fruto de intolerância e uma amostra de dificuldade de conviver com os outros de forma harmoniosa. As bicicletas conquistaram seu espaço? Ótimo! Mas isso autoriza que esse espaço lhe seja exclusivo, excluindo de seu gozo um corredor que, hoje, sofre as mesmas mazelas que o ciclista até então sofria? Acolher ou largar os corredores à sua própria sorte? Você fez sua escolha. Eu, com base em diferentes princípios e com uma visão bem diferente de sociedade, fiz a minha.

Sobre a comparação feita com o auxílio moradia, você comparou banana com cadeira. Um fala, acima de tudo, sobre a ética daquele que tem o imóvel e pode (deve) abrir mão do auxílio. A ilegalidade e inconstitucionalidade somente estão sendo levantadas pela postura não ética e responsável desses servidores.

Correr na ciclovia e na ciclofaixa é ilegal. A lei municipal veda. Como veda uma série de atitudes praticadas pela maioria dos ciclistas. Como o CNT veda a circulação de ciclistas em calçadas, ainda que em alguns casos e trechos ela seja o mais seguro e recomendável, se usada com bom senso. Assim, a questão aqui é bom senso. É conviver. Ter senso de comunidade e sociedade. Assim, se fosse para comparar os dois assuntos, eu diria que o servidor que abre mão do auxílio age com o mesmo senso de responsabilidade que o ciclista que acolhe o corredor no ‘seu’ espaço….”

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O auxílio-moradia e a ciclofaixa https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/o-auxilio-moradia-e-a-ciclofaixa/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/o-auxilio-moradia-e-a-ciclofaixa/#respond Mon, 05 Feb 2018 12:22:52 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/IMG_1761-150x150.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=93 São Paulo, manhã de domingo. Dia em que as bicicletas marcam o gol de honra no violento jogo urbano das avenidas. O resultado desse confronto é previsível, os carros vencem sempre de goleada, sabemos. Mas, na manhã de domingo, tem golaço das bikes. A cidade, por algumas horas, é prioridade delas. As ciclofaixas convidam o cidadão a se exercitar. E, na cidade dos carros, temos um fugaz domínio dos veículos de duas rodas não motorizados.

Eis que surgem então em uma das ciclovias da Zona Sul vários corredores fazendo seu treino matinal. Faz sol, mas a temperatura está amena, perfeita para o trote. Tudo parece fazer sentido a não ser o fato de que a turma está correndo em um lugar reservado naquele momento para bicicletas. Exclusivamente para bicicletas! Está expresso nas placas, todo mundo sabe que é assim. Os corredores, porém, seguem, altivos, em seu treino, acham que não é com eles. Estão atrapalhando o tráfego de bicicletas, oferecendo riscos em uma ciclovia que, aos poucos vai ficando mais povoada.

O corredor acha que tem esse direito. Presume que a cidade e aquele espaço também são dele. Mesmo com as placas dizendo que não, o corredor acha que a ciclofaixa pode, sim, ter gente correndo. Afinal a metrópole é cruel, tudo é difícil, falta espaço, justificativas não faltam.

É aí que entramos no auxilio-moradia dos juizes brasileiros. Um complemento salarial que foi criado, em teoria, para resolver o problema de moradia de uma classe que costuma pingar por muitas cidades no decorrer da carreira. Com o tempo, o auxilio, que deveria ser usado apenas pelos “sem-casa”, foi incorporado como um “direito” dos que possuem imóvel próprio. No racional dos magistrados, o “entendimento” é que a verba ajuda a corrigir uma distorção no reajuste dos salários (como se o problema fosse apenas deles…). O fato é que, em nome de uma distorção, eles estão confortáveis para defender outra. O juiz, que deveria ser o guardião da… justiça, é um tanto flexível para defender o seu.

O corredor na ciclofaixa é uma espécie de juiz com o auxilio-moradia. O direito individual (ou classista, no caso) se sobrepõe à regra geral. O corredor e o magistrado, de uma certa forma, tentam fazer justiça com as próprias mãos. Ou com os próprios pés, no caso.

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Gamificação do treino https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/02/gamificacao-do-treino/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/02/gamificacao-do-treino/#respond Fri, 02 Feb 2018 12:19:50 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_1758-180x120.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=85 Como contei no último post, quem não tem um treinador pra chamar de seu precisa desenvolver certas técnicas motivacionais para acordar com disposição. Outro dia resolvi inventar um treino maluco. Bom, não é bem uma invenção minha, treinos progressivos existem desde sempre. A diferença é que criei pequenas regras que transformaram meu treino quase em um jogo. É o tal do conceito da “gamificação”, tendemos a realizar tarefas difíceis com mais gosto quando elas têm uma cara de joguinho. Pronto. Foi o que eu precisava para sair da cama feliz d vida e querendo “gabaritar” a nova brincadeira.

Meu progressivo era simples na regra e complicado na execução. Estabeleci que iria correr 9 quilômetros e que cada quilômetro precisaria sair mais rápido do que o anterior. Ou seja, se exagerasse no ritmo nos primeiros eu chegaria morto nos últimos. Pra complicar, determinei que o primeiro quilômetro precisaria sair já num ritmo intermediário para os meus padrões, 5min30 por km que equivale a 11 km/h. A progressão precisaria ser realmente lenta, quanto mais próximos os ritmos mais chance eu teria de sobreviver à gincana.

Comecei bem, cravei 5min30 no primeiro km, segundo meu GPS. Fui bem demais no
segundo, 5min24, mas dei bobeira no terceiro, 5,12. Rápido demais, e, no quarto quilômetro, repeti o erro ao fechar em 5 minutos redondos. Fui com muita sede ao pote.

Precisava agora controlar mais o ritmo e exagerei no controle, errando e fazendo 5min02 no quinto. Não me abalei com os dois segundos de “estouro”, considerei que o jogo seguia valendo, afinal sou o guardião das regras. O importante seria a parte final do progressivo, ali, sim, o jogo se decidia.

Talvez preocupado com o que tinha acabado de acontecer, forcei demais no quilômetro seis e fechei em 4min48. Xi, tinha mais três quilômetros até o final e o cansaço começava a bater. O sétimo me deu esperança, fiz em 4min43, me senti um corredor suíço tal a precisão da redução. No oitavo, de novo, baixei apenas cinco segundinhos e fiz em 4min38. Só faltava o último e ainda tinha fôlego para apertar o ritmo. Dito e feito. Fiz o quilômetro em 4min28 e me decretei vencedor do desafio apesar da bobeada no quilômetro cinco.

É a vantagem de ser o único participante do jogo que eu mesmo criei. Não é legal mesmo essa história de gamificação?

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Quem manda sou eu https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/01/quem-manda-sou-eu/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/01/quem-manda-sou-eu/#respond Thu, 01 Feb 2018 12:14:55 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_0943-120x180.png http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=82 Vantagem de não ter treinador é não haver ninguém pra ficar dando ordens.

A desvantagem de não ter treinador é não haver ninguém pra ficar dando ordens…

Estou nessa situação há algum tempo. A experiência de editor de revista de corrida me deu algum conhecimento e a liberdade para ligar para os treinadores quando tenho alguma dúvida para elaborar ou modificar minha própria planilha. Gosto de treinar nos horários e dias possíveis, aprendi a respeitar os avisos do meu corpo. Cancelo treinos, troco dias, tenho uma planilha um tanto “móvel”, por assim dizer.

Mas respeito algumas premissas. Jamais treino forte em dois dias seguidos, evito treinar cansado, tento sempre acomodar numa semana dois treinos intervalados de qualidade mais um longo. Já percebi que para mim funciona bem a lógica de treinar menos e melhor. Aprendi ainda que descansar é um treino igualmente importante.

Costumo conviver bem com essa quase solidão. Treino sozinho, planejo sozinho meus treinos, não tenho ninguém pra cobrar performance. Mas tem dia que falta um inventivo, falta… uma cobrança externa. E aí fica difícil acordar faceiro para o treino da manhã. Sobretudo quando o treino é daqueles doídos como um longo muito longo ou aqueles tiros muito curtos feitos com o coração próximo de um colapso.

Desenvolvi uma técnica eficiente para a véspera desses treinos mais duros. É uma espécie de “autoengano programado”. Em um português mais claro, minto deslavadamente para mim mesmo. Acabo me convencendo que estou cansado demais e só poderei fazer um trote vagabundo no parque, nada mais.

É o suficiente para conseguir sair da cama, tomar o café e me arrastar pelas ruas do bairro. Dez minutos mais tarde, aquecido e já no parque, me dou conta que não estava tão cansado como no fingimento de minutos atrás e faço o treino programado inicialmente. É tudo muito idiota. Sei o tempo todo que estou me enganando e gosto de me enganar. O importante é que funciona.

Outra técnica curiosa foi inventar treinos “mais lúdicos”. Dia desses resolvi dar uma “gamificada” na planilha, mas deixo a história pra amanhã.

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Juiz lentão https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/25/juiz-lentao/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/25/juiz-lentao/#respond Thu, 25 Jan 2018 13:25:19 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_1753-180x120.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=79 Aconteceu há alguns anos. Eu dirigia na época a revista Placar. Estava treinando para a maratona, andava em forma. Bons tempos, 10 quilômetros na faixa de 44 minutos, meia abaixo de 1h40min, me sentia forte. Aí li a notícia no jornal que uma série de árbitros importantes do futebol brasileiro estavam afastados por não conseguirem passar nos testes físicos. Como assim? Quanta incompetência, pensei eu. E se eu, já beirando os 50 anos e “amador profissional”, fizesse uma reportagem mostrando que era possível passar no teste?

Precavido, antes de colocar a reportagem na pauta, fui ao Parque do Ibiraquera fazer o “teste do teste”. Eram dois desafios. Precisava dar seis tiros de 40 metros em menos de 6 segundos. Depois, 40 tiros de 75 metros em menos de 15 segundos com um intervalo caminhando de 20 segundos. Acho que é fácil, pensei. Talvez sofra um pouco na primeira série, já que nunca fui um velocista.

Fato. Sofri. Como fiz sozinho a tentativa, sem a ajuda de alguém na cronometragem, as medições saíram imprecisas. Mas sei que estava fracassando. Um cansaço descomunal, e a performance despencando a cada tentativa. Era evidente que minha carreira de árbitro terminava antes de iniciar. Pior, eu não tinha nem uma reportagem a fazer, nada a provar. Infelizmente não deu.

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Frank, o corredor https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/16/frank-o-corredor/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/16/frank-o-corredor/#respond Tue, 16 Jan 2018 16:42:01 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_1719-180x135.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=76 Williams”. Está lá no Netflix. Tremendo documentário sobre Frank Williams, o todo poderoso da Formula 1. O filme conta a história do ex-piloto que se tornou chefe de equipe e uma lenda do automobilismo mundial. Não é apenas para aficcionados pela velocidade. É um documentário que conta a vida de um sujeito obcecado pela vitória e esmiúça os seus dramas familiares. De quebra, uma aula de história esportiva. Piquet, Senna, Mansell, Sir Jackie Stewart, grandes nomes com seus depoimentos relevantes.

Recomendo demais o documentário, mas não é sobre automobilismo que quero falar. Não sabia e descobri pelo filme que Frank era um corredor da pesada. Não o piloto, mas o bípede corredor. Frank Williams hoje é visto pelo circo da F1 andando em sua cadeira de rodas. O documentário relata o acidente automobilístico que quase o matou e o deixou paraplégico. Antes do acidente, porém, Frank era visto nas vésperas dos grandes prêmios mandando ver na pista. Só que ele corria sem motor, com as próprias pernas. E era veloz pra chuchu. Há cenas do filme com ele correndo. E me chamou atenção o seu ritmo. Ele parecia correr realmente rápido.

Fui dar uma pesquisada no lado atleta de Frank Williams. Não me enganei. Frank era obcecado pela velocidade e por seus tempos pessoais. Corria diariamente, e distâncias respeitáveis. Algo como 15 ou 20 quilômetros por dia. Anotava tudo. Previa a própria evolução. Queria ter feito uma maratona, mas sabia que não tinha o tempo necessário para treinar. Frank fixou então como objetivo correr meias maratonas. E não brincava de serviço. Seu melhor resultado em meia foi 1h18min32. Uma marca expressiva para amadores que até pode render pódio em provas menores. Tinha planejado baixar esse tempo no fim de semana quando sofreu o acidente. Acelerou nas sinuosas estradas francesas justamente para chegar mais cedo em casa. A pressa acabou com o sonho.

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Ar condicionado na praia https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/12/ar-condicionado-na-praia/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/12/ar-condicionado-na-praia/#respond Fri, 12 Jan 2018 13:05:27 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_1712-128x180.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=73 Sabe aquele casaquinho de nylon bem fininho que bem dobrado cabe no bolso da calça? O nome técnico dele é corta-vento, mas eu o apelidei de “SOS Rio”. Essa levíssima peça de roupa tem me salvado nas minhas andanças pela cidade maravilhosa. O Rio continua lindo e quente pra dedéu, é verdade, mas o carioca médio não se conforma com o aquecimento global e local. Ele combate o problema com resfriamento brutal e implacável. Sempre que possível ele usará seu raio congelante. Em casa, no carro, no cinema, no escritório, no metrô, onde estiver, o ar condicionado estará na temperatura mínima e na velocidade máxima.

Quarenta graus lá fora e 16 graus aqui é quase um mantra carioca. Odeio o calor, ando pela sombra, estou longe de ser friorento. Mas não consigo entender essa tara pelo contraste. Por que baixar tanto a temperatura interna? É mais maluco ainda quando no inverno carioca, em uns agradáveis 20 graus, escuto o motorista se queixar da onda de frio na cidade enquanto seu táxi está em uns 16 graus com direito a ventania no painel.

O meu corta-vento, quer dizer, meu “SOS Rio”, tem me salvado de boas. Saco ele da mochila sempre que necessário e volto a me sentir bem. Ainda vou entender melhor a psiquê a carioca e conseguir captar o fenômeno. Mas antes preciso da ajuda dos confrades aqui para me explicar um outro fenômeno (podem responder pelo Twitter mesmo, no @sxavierfilho).

Aconteceu na manhã de hoje quando corria na Barra da Tijuca. Sem sol, a temperatura estava agradabilíssima, sobretudo para o verão. Era coisa de 20 graus, quase sem vento. Mas a medida que me aproximava do final da Barra, para o lado do Recreio, vinham umas rajadas de vento frio, sensação de uns três graus centígrados abaixo. Aliás, a sensação era exatamente a mesma de estar numa estação e de repente entrar no vagão do metrô. Sensação de… ar condicionado ligado. Pode?

As rajadas aconteciam justamente quando havia espaço entre os prédios. Entendo o vento maior, não a diferença de temperatura. Como funciona isso? O ar mais frio vem do mar ou das montanhas? Os prédios criam uma barreira e o ar esquenta? Algum especialista que possa me ajudar a entender? Só não venham me dizer que algum carioca esperto inventou um ar condicionado gigante na Barra da Tijuca, essa não…

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