Correria https://correria.blogfolha.uol.com.br Mon, 19 Nov 2018 15:21:45 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A São Silvestre quer melhorar? https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/04/a-sao-silvestre-quer-melhorar/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/04/a-sao-silvestre-quer-melhorar/#respond Thu, 04 Jan 2018 12:56:50 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_1704-180x88.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=61 Recebi uma dezena de relatos de companheiros da corrida. Há uma quase unanimidade: a edição 2017 da São Silvestre foi a melhor dos últimos anos para os amadores. Há outra quase unanimidade também: a prova continua uma zona. Seguem os congestionamentos e a clara impressão de que poderia ser melhor. Um dos relatos mais “positivos” é do confrade Fernando Mazotti:

“Serginho, larguei no pelotão azul, logo depois da elite e caminhei por apenas 50 metros. Consegui correr o percurso todo. Mas 90% dos corredores tiveram que andar muito. Sem largada em ondas isso nunca acabará. E o controle sobre a entrada no pelotão certo foi bem ruim também.”

Não vou repetir o que já escrevi. Só largada em ondas resolve o congestionamento, a divisão por pelotões de ritmo apenas atenua o problema. Mesmo com a saída em duas pistas da Paulista, não tem jeito. A entrada no túnel afunila tudo, ali a maioria absoluta precisará caminhar.

Para corrigir isso a organização precisa primeiro reconhecer que tem um problema. O fato de todos os anos muita gente querer correr não significa satisfação do consumidor. A ideia de correr no último dia do ano uma prova tradicional é tão fascinante que muitos relevam o desconforto. Nenhum corredor gosta de caminhar porque simplesmente não consegue correr.

Após o reconhecimento, é preciso agir. Planejar as ondas, explicar como elas funcionarão, checar a informação dos ritmos de corrida no momento da inscrição, fiscalizar no dia da prova para que cada um esteja no lugar estabelecido. Dá trabalho, mas quanto mais organizado tudo fica menos penetras aparecerão. Os pipocas proliferam na zona absoluta. A organização da prova bateu muito na tecla dos penetras estragando a festa. É verdade, é um problemão mesmo um galera enorme que não pagou a inscrição tomando o lugar de quem se inscreveu. Falta espaço, água, falta vergonha na cara de quem faz isso. Mas os pipocas não são a única questão da SS.

A organização quer mesmo melhorar ou está satisfeita com o lucro atual das inscrições e dos patrocínios? O mesmo raciocínio vale para a Volta da Pampulha, para a Meia Internacional do Rio, para grandes (e maravilhosas, diga-se de passagem) provas brasileiras. Dá pra melhorar, desde que se queira de verdade.

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São Silvestre integral https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/03/sao-silvestre-integral/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/01/03/sao-silvestre-integral/#respond Wed, 03 Jan 2018 12:59:31 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_1697-180x125.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=57 Semana passada escrevi na Folha sobre a São Silvestre. Escrevi mais do que deveria, culpa minha. Não coube no papel. Aqui cabe. Mais tarde falo sobre o que se confirmou no dia da corrida e sobre o ano que vem. Lá vai o texto integral…

“A São Silvestre mudou. A largada da prova avançou 150 metros pela Avenida Paulista e acontecerá entre as ruas Augusta e Padre João Manuel. A ideia da organização é evitar que os 30 mil inscritos recebam a indesejável companhia dos “pipocas”, os penetras que pulam as grades e correm ao lado de quem pagou os 170 reais pelo kit da corrida. Com o novo ponto de largada, mais próximo ao túnel José Roberto Fanganiello Melhem, os organizadores imaginam que dificultarão a ação dos intrusos. “Era na entrada do buraco da Paulista que muita gente invadia a prova, agora teremos uma fiscalização mais forte no local. No ano passado, foi um recorde, calculamos algo entre 10 a 15 mil ‘pipocas’ roubando o espaço e a água de quem se inscreveu corretamente”, diz Marcelo Braga, assessor de imprensa da prova.

O problema da falta de água no ano passado gerou até a criação de um grupo de Facebook chamado “São Silvestre Corrida Desorganizada” que reune 296 corredores. “Criei o grupo porque todo ano tinha protesto e faltava concentrar reclamações sugestões”, diz o corredor Antonio Muk. “Vi várias pessoas passando mal ao longo da prova no ano passado. Já estava faltando água no quilômetro 5, isso é absurdo”, protesta Emerson Araújo Alves. Para Alan Fernandes, que participava pela sexta vez do evento, a edição 2016 foi a pior de todas. A organização justificou a falha pela presença forte dos “pipocas”. Os 450 mil copos de água não tiveram a velocidade necessária de reposição nos postos e esse ano o número foi reforçado para 750 mil copos.

Mesmo evitando o estouro dos pipocas em 2017, a organização não resolverá outro crônico problema da São Silvestre: a largada continuará a zona de sempre. Apenas o pelotão de elite e umas poucas centenas de atletas que se posicionam na Paulista horas antes na partida poderão dizer que correram, de fato, a São Silvestre. Os milhares demais vão caminhar espremidos nos primeiros quilômetros porque, como de hábito, a corrida congestiona. “Não tem jeito, 30 mil pessoas mais os penetras é gente demais”, afirma Braga.

A São Silvestre, de fato, é uma prova gigante, tem o mesmo número de inscritos que a Maratona de Boston. Mas em Boston não há registros de gente precisando caminhar na largada. Em Nova York, são 50 mil atletas que desenvolvem a velocidade que bem desejarem desde os primeiros metros. Não há mágica aí. Só é possível proporcionar conforto na partida se a largada acontecer em ondas. Em Boston, por exemplo, são quatro ondas de 7,5 mil corredores que ocorrem a cada 25 minutos. Dessa forma, a multidão de atletas se dispersa pelo percurso sem atropelos. “No fundo, não muito mais do que umas 300 pessoas estão preocupadas com performance. Nós temos uma espécie de onda também. O atleta informa o ritmo que pretende fazer a prova e damos pulseiras com cores diferentes para que os mais lentos não fiquem na frente dos mais rápidos. O problema é que a turma não respeita isso…”, diz Braga.

O assessor de imprensa da prova se refere aos “pelotões de ritmo” que também são utilizados nos grandes eventos. Na maioria deles, o atleta precisa informar o link de resultados de uma prova anterior feita no ritmo pretendido. E a organização checa, por amostragem, se o corredor está falando a verdade ou quer simplesmente largar na frente. Além disso, há uma fiscalização rigorosa para que cada atleta entre no espaço destinado ao seu ritmo. Na São Silvestre, isso não acontece. E mesmo se o pelotão de ritmo beirasse a perfeição, o congestionamento seguiria acontecendo. Boston, Nova York, Berlim, Tóquio, Paris, Londres já descobriram que sem largadas em ondas é impossível assegurar a fluência da corrida.

O paralelo da São Silvestre com grandes maratonas mundo afora não é um despropósito. “Mesmo acontecendo em uma data inconveniente para a maioria das famílias, todo mundo quer participar. É um caso único na América do Sul”, observa o consultor em marketing esportivo Cristiano Coelho que já foi gerente global da Nike em Running. No Brasil, de fato, não há uma grande maratona, mas a São Silvestre assume esse papel. É uma prova com tradição, 93 anos de história, o povo vai à rua e torce mesmo por anônimos. “O mais difícil para um evento é ele ser conhecido, relevante, desejado. A São Silvestre é tudo isso, mas precisa proporcionar também uma boa experiência. E não há corredor que não se irrite quando não consegue correr e precisa caminhar”, diz Andrea Longhi, criadora do Circuito Golden Four de meias maratonas pelo Brasil.

A prova toca fundo corredores e mesmo quem nunca experimentou um trote. Quem não está em São Paulo liga a televisão, enquanto o peru do dia 31 está no forno. E aí torce pelo João, pelo José João, pelo Émerson, pelo Marilson da vez. Quem corre compreende rapidamente o simbolismo. A SS representa a virada do ano e a conciliação do cidadão com a sua cidade. A cidade dos carros se rende aos pedestres. O percurso da prova é um componente do simbolismo com largada e chegada na Avenida Paulista, a avenida mas paulista da metrópole. Quem já correu sabe como é emocionante vencer a estafante subida da avenida Brigadeiro Luís Antônio, virar na Paulista, receber o incentivo de desconhecidos e ganhar um pulmão novo. Nesse momento, não há como não acreditar que o próximo ano será também de superação e vitórias.”

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Por que a São Silvestre congestiona? https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/30/por-que-a-sao-silvestre-congestiona/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/30/por-que-a-sao-silvestre-congestiona/#respond Sat, 30 Dec 2017 18:38:19 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/IMG_1683-180x88.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=53 Amanhã tem São Silvestre. Amanhã tem emoção, diversão e… muvuca. Tão certo quanto os congestionamentos em vésperas de feriado nas estradas Paulista é o congestionamento de corredores na Avenida Paulista no dia 31. Os 30 mil corredores da principal prova de rua da América do Sul vão se embolar nos primeiros quilômetros como de hábito. E vão caminhar, como sempre.

Não precisava ser assim. 30 mil corredores é um bocado de gente, mas em Nova York são 50 mil ano após ano, e todo mundo corre. Maratona de Berlim, Londres, Boston, Tóquio, Paris, dezenas de milhares de pessoas alinhadas na largada e a turma corre, não caminha. Os grandes eventos, basicamente, “organizam” a largada, o momento mais sensível de uma prova de rua. No momento da inscrição, consultam os atletas sobre seus ritmos e os colocam em pelotões correspondentes na largada. Além disso, dividem a largada em “ondas” e assim liquidam com os congestionamentos.

Na São Silvestre, nunca foi assim. Quem chega antes larga antes, basicamente. Como os da frente não são necessariamente os mais rápidos, tudo para. Uns 40 minutos para todos passarem a largada. Caminhadas nos primeiros quilômetros para a maioria.

Dá pra ser diferente, mas dá trabalho. É preciso fiscalizar os ritmos informados pelos corredores. Muita gente só quer largar na frente e acaba mentindo. É preciso dividir os pelotões de largada em ondas. E fiscalizar a entrada de cada atleta no seu lugar correto. Dá trabalho. O problema da São Silvestre não é excesso de corredores, mas organização.

Dá pra melhorar. Mas não será na manhã desse domingo. Amanhã ainda é dia de muvuca.

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A São Silvestre nossa de cada dia https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/29/a-sao-silvestre-nossa-de-cada-dia/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/29/a-sao-silvestre-nossa-de-cada-dia/#respond Sat, 30 Dec 2017 01:24:54 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/FA8CD7BC-3800-4896-BD55-F93A45324F0E-180x135.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=50 Nem sei quando exatamente isso começou. Só me lembro do cheiro da carne assando na cozinha. A TV ligada na sala, a largada acontecendo e uma torcida cega pelo brasileiro da hora. José, João, Zé João, Émerson, o nome é o que menos importava. A ceia rolando e eu de olho na TV. A vitória de um brasileiro na São Silvestre era a senha para um grande ano.

Eu nem corria, mas já sabia que a São Silvestre não era uma corrida qualquer. Significava pular as sete ondinhas, vestir roupa branca, comer doze uvas. Era simplesmente uma forma de desejar feliz ano novo para todos, para os desconhecidos, inclusive para os atletas brasileiros desconhecidos.

O tempo passou, a São Silvestre mudou de horário, eu cresci e comecei a correr. E inventei, faz uns 20 anos, a minha tradição pessoal: todo dia 31 eu corro 15 km, esteja onde estiver. Com a família longe, dificilmente fico em São Paulo na virada do ano, por isso só participei de três São Silvestres. Mas já “corri São Silvestre” em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Florianópolis, Copenhagen, Imbé, em toda a parte.

Parece que o ano começa diferente após os 15 km do dia 31. Começa sempre melhor. Nesse sábado, a Folha de S. Paulo me pediu um texto sobre a São Silvestre. É a maior corrida da América do Sul. É a versão brasileira da Maratona de Nova York. Mas podia ser melhor. É sobre isso que escrevo.

A São Silvestre pode acontecer até numa prainha remota…

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