Correria https://correria.blogfolha.uol.com.br Mon, 19 Nov 2018 15:21:45 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Príncipe das galáxias https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/11/19/principe-das-galaxias/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/11/19/principe-das-galaxias/#respond Mon, 19 Nov 2018 15:21:45 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/IMG_0942-320x213.jpg https://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=197 Doutor Drauzio Varella, gênio da raça, já descreveu com a precisão habitual a sensação de acordar e correr:

“Digo por experiência própria. Há 20 anos corro maratonas, provas de 42 quilômetros que me obrigam a levantar às cinco e meia para treinar. Tenho tanta confiança na integridade de meu caráter, que fiz um trato comigo mesmo: ao acordar, só posso desistir de correr depois de vestir calção, camiseta e calçar o tênis. Se me permitir tomar essa decisão deitado na cama, cada manhã terei uma desculpa. Não há limite para as justificativas que a preguiça é capaz inventar nessa hora. Ao contrário do que os treinadores preconizam, não faço alongamento antes, já saio correndo, única maneira de resistir ao ímpeto de voltar para a cama. O primeiro quilômetro é dominado por um pensamento recorrente: ‘não há o que justifique um homem passar pelo que estou passando’. Vencido esse martírio inicial, a corrida se torna suportável. Boa mesmo, só fica quando acaba. Nessa hora, a circulação inundada de endorfinas traz uma sensação de paz celestial, um barato igual ao de drogas que nunca experimentei.”

Pura verdade, Doutor. É exatamente isso, começar a correr é mesmo um martírio. O cérebro mandando parar, quer dizer, sugerindo nem começar. E a gente lutando contra. Mas o martírio pode ser supremo caso… esteja chovendo. Cá para nós, é uma desculpa e tanto. Olhar pela janela e ver o ricochete dos pingos permite negociação, parece razoável adiar o treino molhado por uma sessão seca no dia seguinte. Várias vezes fiz esse acordo comigo e, na maioria, cumpri a segunda parte.

Só que tem dia que não dá. Falta agenda. É na chuva ou nada. Nessa segunda-feira chuvosa de novembro, me coloquei em sinuca. Iria viajar, não teria buracos na agenda, precisava treinar. E calcei os tênis torcendo para que a chuvinha desse uma trégua ao menos no início do trote. Porque fazem a total diferença os primeiros minutos de aquecimento. Começar seco, suar e depois tomar um chuvisco por cima é algo até agradável. Mas tomar uma ducha com o corpo frio, logo sentir os pés encharcados, entra na “categoria martírio” do Doutor Drauzio. Martírio premium, martírio master, inferno.

Só que há o outro lado, no caso, o do paraíso. Vencido o treino, planilha cumprida, viramos campeões. Era só um exercício físico, mas a sensação é de batalha épica terminada. Vencemos. Lutamos contra o dragão da preguiça matinal e espetamos nele a lança da perseverança. Como é mesmo aquela expressão das galáxias? Isso, depois de encarar um treino chuvoso, a gente se torna o príncipe das galáxias.

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Maratona não tem o tamanho de SP https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/04/07/maratona-nao-tem-o-tamanho-de-sp/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/04/07/maratona-nao-tem-o-tamanho-de-sp/#respond Sat, 07 Apr 2018 13:14:31 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/IMG_1851-320x213.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=125 Só quem já correu pode ter certeza: a maratona não faz o menor sentido. 42.195 metros é distância para ser percorrida por veículos mecanizados, jamais por bípedes de livre arbítrio. Mesmo assim, todo ano e por todo o planeta, milhões se inscrevem em provas desumanas e, pasmem, acabam completando a distância. Nesse domingo, a partir das 7 horas da manhã, São Paulo é o ponto de encontro de aproximadamente cinco mil maratonistas. A 24ª edição da Maratona de São Paulo ainda terá 10 mil atletas amadores que se inscreveram nas outras três distâncias intermediárias (24 km, 8 km e 4 km). Todos largarão do Obelisco do Parque Ibiraquera e completarão as respectivas distância terminando no mesmo no mesmo Ibirapuera.

Maratonas mundo afora oferecem pequenas compensações para que o atleta contrarie as súplicas do corpo e não desista. Muitos pontos de hidratação, gente apoiando na rua, bandas de música são apreciadas pelos maratonistas. Mas um dos grandes atrativos na hora de escolher uma maratona é o seu percurso. Ele é plano, agradável, interage com a cidade, passa pelos principais pontos de interesse? A maratona de Nova York passeia pelos cinco distritos, atravessa pontes, termina no Central Park. Em Paris, Torre Eiffel, Rio Sena, palácios, parques, uma verdadeiro tour. A Maratona de Barcelona dá uma volta pelo Camp Nou, sobe Ramblas, passa na frente dos prédios do genial arquiteto Gaudí, pede a benção na Sagrada Família e ainda vê o mar. E São Paulo?

Bem, a maratona de São Paulo sai do Ibiraquera, percorre a região do Parque Villa-Lobos, que já é palco de tantas outras provas do calendário paulista, e dá muitas voltinhas na Cidade Universitária, também familiar dos corredores paulistanos que por lá treinam aos sábados. Monumentos, pontos históricos não estão no trajeto da maratona. “Adoraríamos fazer uma prova que andasse mais pela cidade, como Nova York. Mas São Paulo não ‘compra’ a prova, a população não vai pra rua, não quer o trânsito atrapalhado”, diz Marcelo Braga, assessor da Yescom, a empresa que organiza a prova.

A Maratona de São Paulo vem sendo a acossada pela SP City Marathon que acontece em 29 de julho e apresenta um percurso mais rico, largando no Pacaembu, fazendo um recorrido pelos principais pontos do centro, passando pelo Ibirapuera e terminando no Jockey Clube. Com três anos de existência, a City se aproxima no número de inscritos. A Maratona de São Paulo era a principal maratona brasileira em 2011, mas já foi ultrapassada pela Maratona do Rio que ano passado teve 6731 concluintes (São Paulo teve 4733 e a City 3791). É possível que o percurso tenha a ver com isso. Correr uma maratona já é o cão, um percurso mais atraente não leva ninguém ao nirvana mas ao menos distrai o cérebro que só pensa em pedir uma ambulância.

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Quem manda sou eu https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/01/quem-manda-sou-eu/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2018/02/01/quem-manda-sou-eu/#respond Thu, 01 Feb 2018 12:14:55 +0000 https://correria.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/IMG_0943-120x180.png http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=82 Vantagem de não ter treinador é não haver ninguém pra ficar dando ordens.

A desvantagem de não ter treinador é não haver ninguém pra ficar dando ordens…

Estou nessa situação há algum tempo. A experiência de editor de revista de corrida me deu algum conhecimento e a liberdade para ligar para os treinadores quando tenho alguma dúvida para elaborar ou modificar minha própria planilha. Gosto de treinar nos horários e dias possíveis, aprendi a respeitar os avisos do meu corpo. Cancelo treinos, troco dias, tenho uma planilha um tanto “móvel”, por assim dizer.

Mas respeito algumas premissas. Jamais treino forte em dois dias seguidos, evito treinar cansado, tento sempre acomodar numa semana dois treinos intervalados de qualidade mais um longo. Já percebi que para mim funciona bem a lógica de treinar menos e melhor. Aprendi ainda que descansar é um treino igualmente importante.

Costumo conviver bem com essa quase solidão. Treino sozinho, planejo sozinho meus treinos, não tenho ninguém pra cobrar performance. Mas tem dia que falta um inventivo, falta… uma cobrança externa. E aí fica difícil acordar faceiro para o treino da manhã. Sobretudo quando o treino é daqueles doídos como um longo muito longo ou aqueles tiros muito curtos feitos com o coração próximo de um colapso.

Desenvolvi uma técnica eficiente para a véspera desses treinos mais duros. É uma espécie de “autoengano programado”. Em um português mais claro, minto deslavadamente para mim mesmo. Acabo me convencendo que estou cansado demais e só poderei fazer um trote vagabundo no parque, nada mais.

É o suficiente para conseguir sair da cama, tomar o café e me arrastar pelas ruas do bairro. Dez minutos mais tarde, aquecido e já no parque, me dou conta que não estava tão cansado como no fingimento de minutos atrás e faço o treino programado inicialmente. É tudo muito idiota. Sei o tempo todo que estou me enganando e gosto de me enganar. O importante é que funciona.

Outra técnica curiosa foi inventar treinos “mais lúdicos”. Dia desses resolvi dar uma “gamificada” na planilha, mas deixo a história pra amanhã.

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“Forevis Young” https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/11/forevis-young/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/11/forevis-young/#respond Mon, 11 Dec 2017 11:01:47 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=35 Ninguém quer envelhecer, a luta pela eterna juventude é também eterna. As armas é que são constantemente renovadas. Botox, fibras de colágeno, elastina, hidratantes noturnos, cremes, cirurgias plásticas. O arsenal é gigante. E o objetivo é travar o processo mais inevitável que conhecemos. Vamos ficar mais velhos, a musculatura, mais flácida, não tem jeito.

Parecer mais jovem é um valor e tanto hoje em dia. Nada contra quem tenta parecer mais jovem, mas que tal trocar ou acrescentar um novo verbo nessa questão? Que tal mudar a frase, que tal “tentar se sentir mais jovem”? Há uma diferença entre parecer e se sentir. Parecer é para os outros. É a nossa imagem externa. Se sentir é nosso, é pessoal e intransferível. Quem faz atividade física regularmente, quem nada, corre, pedala, sabe do que estou falando. Quem consegue estabelecer uma boa rotina de treinos acaba evoluindo. Em um dia os 5 km de trotes saem penosos, doídos. Meses depois, o sujeito está completando sorrindo uma meia maratona. Que sensação é essa? Não é se sentir mais jovem?

É claro que a opinião dos outros conta. Precisamos de um referendo externo, o elogio geralmente faz bem. Nossa, que pele macia, que cabelo lindo, é tudo positivo. Mas a sensação de bem estar pode ser ainda mais poderosa. E aí não tem química que ajude, não tem um produto externo milagroso. É com a gente mesmo. Um, dois, um, dois… Treino, suor e recompensa. A recompensa pode até ser um elogio, “nossa, que tanquinho”, ou um “puxa, como você está em forma”. Bacana, elogios nunca são demais. Mas acordar e enxergar no espelho um sujeito mais bem disposto vale demais. Mesmo que a imagem do espelho não seja necessariamente de alguém mais jovem, mas simplesmente de alguém melhor.

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É do peru! https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/07/e-do-peru/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/07/e-do-peru/#respond Thu, 07 Dec 2017 12:59:08 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=32 De bobas, as marcas não têm nada. Usam, abusam, apelam da emoção de fim de ano. Forçam a barra em busca de lágrimas e, claro, de impulsos consumistas dos fregueses. O jogo é esse, sempre foi assim. Nem por isso precisamos ser ranzinzas e não reconhecer quando a mensagem gera uma emoção verdadeira.

A Sadia mandou bem como você pode conferir em sua campanha desse Natal. E é de bater palmas sempre quando as marcas vendem seu peixe (peru, frango, o que for) e incentivam de alguma forma o esporte. Mais palmas quando o incentivo vai específico pra corrida.

Eles conseguiram. Colocaram num mesmo filme amor pelo esporte, espírito natalino, generosidade, respeito às diferenças, uma criança com Síndrome de Down e, claro, um peruzão lá no final.

Confira o reclame e resista se for capaz.

http://www.meioemensagem.com.br/home/ultimas-noticias/2017/11/29/em-campanha-de-natal-sadia-aborda-gratidao.html

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Se vira nos 30, amigo! https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/01/se-vira-nos-30-amigo/ https://correria.blogfolha.uol.com.br/2017/12/01/se-vira-nos-30-amigo/#respond Fri, 01 Dec 2017 14:34:30 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://correria.blogfolha.uol.com.br/?p=25 Nunca me dei conta das semelhanças, mas Copa do Mundo é mesmo uma espécie de maratona. Para quem nunca experimentou, a maratona é uma corridinha de 12 quilômetros que tem uns 30 km de aquecimento. Para quem não sabe, nós, os humanos, não fomos feitos para correr mais do que 30 quilômetros. É o nosso limite, um pouco mais, um pouco menos, dependendo da pessoa.

Qualquer um, até o cunhado que não sai do sofá, pode correr até uns 30 quilômetros se treinar adequadamente. Para depois dos 30, é preciso mais. Alguma aptidão específica, treinamento sério e, principalmente, muita cabeça. É o cérebro implorando para parar com essa bobagem. É o cérebro lembrando a cada músculo que humanos não foram feitos para correr mais do que 30 quilômetros. Dá pra completar a maratona, muitos completam todos os anos e em todas as partes do planeta. Só que é difícil pacas.

A Copa do mundo é assim. Difícil pacas. Só uns poucos a vencem. Não basta ser bom e querer. É necessário ter cabeça, vencer o nervosismo. No futebol, a expressão “cabeça” está relacionada à tradição do país, à “camisa”. Tanto que apenas oito países levantaram a taça desde 1930.

Nesta sexta-feira, primeiro de dezembro, temos sorteio do Mundial da Rússia para definir os grupos da primeira fase. Muita gente dá uma enorme importância a essa primeira fase quando as 32 seleções são distribuídas em oito grupos. Bobagem. A primeira fase equivale aos primeiros 30 quilômetros da maratona. Assim como o longo processo das Eliminatórias representa toda a fase de treinos do maratonista.

Se a maratona não passa de uma corridinha de 12 quilômetros, a Copa do Mundo de verdade também pode ser resumida a partir das oitavas de final quando os confrontos de mata-mata definem quem segue adiante. Ali sim, o jogo começa. Não basta ser bom e estar bem treinado. É necessário “ter cabeça”, estar focado, querer demais.

Quem exagera o ritmo nos 30 quilômetros iniciais corre o risco de não ter fôlego e cabeça para os 12 finais. As seleções que se empolgam demais e se embriagam com o sucesso na primeira fase podem não ter energia para encarar os confrontos a partir das oitavas. O paradoxo disso é que não se pode também relaxar demais nos 30 quilômetros iniciais assim como não se pode bobear na fase de grupos da Copa. Só ganha a medalha da maratona quem sobrevive aos 30. Na Copa, para chegar aos mata-matas, é preciso se virar nos 30 da primeira fase. Mas o jogo só começa depois…

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